Quando do meu nascimento, em 1957, os processos de imunização contra a poliomielite por vacinas (chamada à época de “paralisia infantil”, a “doença das manhãs”) ainda eram bastante incipientes. Nos EUA já se aplicava a vacina conhecida pelo nome de seu desenvolvedor, o nova-iorquino Jonas Salk.
A vacina Salk teve seus testes laboratoriais iniciados em 1953, graças aos massivos investimentos alocados para esse propósito após o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, ser vítima da doença. Importa frisar que ele foi infectado aos 39 anos de idade, em 1921, ano de valor histórico para os Monlevadenses. A importância desse fato, considerando sua posição política e social, serviu de alerta quanto à realidade de que adultos, da alta camada social, também poderiam sofrer os impactos e consequências dessa patologia viral.
Já em 1955, também na América do Norte, depois de testes em ambientes controlados, a vacina foi disponibilizada ao público. No entanto, pelo fato de seu desenvolvedor renunciar à patente, num gesto humanitário reverenciável, um dos laboratórios que produziu o imunizante se equivocou na formulação e proporcionou o contágio em diversas pessoas. Isso fez com que, ao invés de proteger, o defensivo provocou danos em inúmeras pessoas ao contaminá-las com o Poliovírus, causando paralisias e até mesmo óbitos. Apesar de a maior epidemia já registrada na história ter acontecido em 1952, naquele país, o pavor, pela vacina com problemas, se instaurou na população.
Por outro lado, no ano em que nasci, nova bateria de imunização em massa, por lá, não apresentou quaisquer adversidades e a vacina se consolidou.
No Brasil, apenas algumas pouquíssimas clínicas na, então, Capital Federal, Rio de Janeiro, e em São Paulo, dispunham do imunizante, a preços exorbitantes. Dessa forma, ao restante do país e às famílias menos abastadas, como era nosso caso em Monlevade, o acesso era proibitivo, inalcançável. Também por isso, diversos bebês e crianças fomos vítimas da poliomielite, com diferentes graus de afetação. Para os adultos, no entorno dessas crianças, o sofrimento foi, sabidamente, terrível. Ninguém espera ver crianças sucumbirem a uma doença tão devastadora como a poliomielite, a paralisia infantil.
Depois das primeiras tentativas, com mezinhas e rezas, de redução dos danos, amadoristicamente, sem grandes resultados, fui encaminhado ao hospital da cidade, com febre muito alta, dores cruciantes e falta de resposta a estímulos nas pernas. Os sintomas, incluindo vômitos e diarreia, facilitaram o diagnóstico da boa médica que nos atendeu. E ela, conhecedora profunda do problema, profetizou aos meus pais, já bastante abalados por aquela inesperada adversidade: “
– Olha, o caso dele é grave! E existem três possibilidades:
• Ele pode vir a óbito; ou
• vai ficar “entrevado” numa cama, para sempre; ou
• vai ficar “abobalhado”. “
Minha mãe, valendo-se dos conhecimentos de “senso comum”, havia aplicado em mim uma lavagem intestinal com uma daquelas bombinhas conhecidas como ‘enema’ ou ‘clister’ e isso reduziu significativamente a carga viral instalada nos intestinos. Foi a salvação.
Talvez por isso, não morri e nem fiquei “entrevado” para sempre numa cama.
Que sorte a minha!
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