Silvia Ribeiro

Ninguém nasce odiando alguém.

Este é um sentimento que se aprende ao longo do tempo ou que se fabricam em nome de alguma coisa. Em causa própria ou de outrem.

Justificam o ódio e o registram com o nome fantasia de- “oponente do amor”.

Sabemos que algo deu errado e adoeceu por dentro. Pensamentos entraram em colapso, rezaram de traz pra frente, ou não pularam as sete ondas. Neurônios fomentaram crises e deram origem a uma energia desfocada, como esses experimentos que fracassam em determinados laboratórios.

O ódio é aquele sentimento ressabiado, que se camufla, que se envergonha, que vive entre frestas e aptos para dar o bote. Que sai de casa como um ladrão na calada da noite, que prestigia quem se afiniza com ele, que idealiza a lei do mais forte, que confia nas feras internas e se compromete com a sua presa.

No fundo é difícil admitir a existência desse objeto de desejo, (no caso o odiado), a quem se dedica alguns instantes da vida.Talvez, isso explique esse lado obscuro e acovardado do algoz.

Acreditem! Muitas pessoas são melhores odiando do que amando. Pra elas é algo mais visceral e que exige uma particularidade suntuosa pra se executar, um comportamento que aumenta o ibope e modifica o status.

Já me peguei inúmeras vezes tentando encontrar uma justificativa que pudesse me fazer compreendê-lo melhor. Não na intenção de julgamentos nem sentenças. E sim, para refletir e ter uma clareza mais ampla sobre algo que é tão ensurdecedor.

Admito que tudo que eu encontrei me pareceu no diminutivo e não deu vazão a um sentido plausível. Uma busca que me colocou na posição de alguém que tem no colo recortes de jornais que se alimentam de sangue e tristezas. E eu me senti parva.

Pensei em quantas atrocidades são vivenciadas até mesmo com uma certa legitimidade, de peito aberto e sem a menor esperança de justiça. Se é que existe justiça além da divina.

E num determinado estágio não tive mais estômago pra continuar.

Imagino que uma pequena evolução humana, uma pureza espiritual, uma índole de amor ao próximo e solidariedade. Ou princípios que eu vivi no meu berço são fatores que contribuíram pra que eu tivesse esse enjoo.

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