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Fases da vida

Silvia Ribeiro

Compreendendo as fases da vida.

Todos os dias a vida nos concede a oportunidade de revisar os nossos equívocos, de compor o nosso armário de apegos e retirar as coisas que não são tão legais. De reconstruir as nossas ruínas e qualificar as nossas afeições como deve ser.

Pede para que a gente inverta determinados caminhos, que jogue fora as viseiras do desconforto, e aprenda a tirar as culpas das costas. E, consequentemente, que estejamos à altura de novas dimensões que vão muito além do nosso mundo particular.

E a nossa essência?

Guardamos a infância que desenhou no nosso íntimo aquarelas de preceitos que não endurecem nem oxidam pelas intempéries do cotidiano. As chineladas que eram as nossas influencers, os chazinhos que curavam qualquer coisa e as brincadeiras de rua que costumavam deixar arranhões, e até um charmoso gesso.

Memorizamos as cantigas que embalaram o nosso despertar para uma nova era, as melhores roupas para a missa de domingo, o papai noel que nunca chegava e as férias que eram sempre o nosso sonho de consumo. Sem contar- os sacis, as loiras do banheiro, os homens do saco, as mulas sem cabeça. E tantos outros personagens que durante boa parte da noite nos infernizavam sem ninguém saber.

Pensamos na ocasião em que nos deixamos seduzir pelas primeiras letras do alfabeto e descobrimos que com elas poderíamos escrever a nossa própria história sem a ajuda de ninguém. E que o tempo não provoca somente rugas, que o “existir” não vem com uma bula, que pouco se fala sobre o amanhã, que nem tudo que reluz é ouro. E o mais importante- conseguimos separar o joio do trigo.

Vivenciamos a liberdade de apreciar as estações do ano. Vemos alguns interesses se despencarem como folhas no outono, sentimos frio quando o inverno açoita a nossa solidão, deixamos que o suor lave as impurezas do nosso ser nos dias quentes de verão. “E nos primaveramos”.

Admitimos que as nossas emoções são uma roda gigante sem fim, que não há anestésicos para todas as dores, que a saudade é uma companhia quase que diária e que um dia encontraremos a morte cara a cara.

Hoje…

Organizo a minha mala com intensidades que me inquietam, com imperfeições que eu acho graça, com uma alma bonita pra me proteger das tempestades e alguns lembretes que eu julgo ser o certo.

Convivo com um coração que tem voz.

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