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Albatroz : um enigma

Boas surpresas surgem quando os olhos estão abertos para a natureza. Do sussurro do mar que deu nome à vila de pescadores no sul da Bahia – Cumuruxatiba – passa sobre minha cabeça um albatroz. Eu estava no mar ao som de: cumuru, cumuru, cumuru, assim como ele se apresentou ao índio que deu nome à localidade. O “Xatiba” faz parte da composição de origem onomatopeica de quando ele bate nas pedras e falésias.

É nessa tranquilidade das ondas do mar que avisto uma ave se aproximando, vindo do sentido norte para o leste. Passou bem próximo, ao ponto de me permitir ver seu bico vermelho, sua plumagem branca e preta. Um gigante, e eu identifiquei: um albatroz. Imagem linda! Ali, acima de minha cabeça, estava o agigantado dos ares, a maior ave do mundo, cuja envergadura chega a 3,50 metros.

Passou silencioso. Silêncio de um voo migratório? É um dos habitantes de Abrolhos que acasalam no arquipélago? Está sozinho? Nesses pensamentos, avisto outro, dentro da minha visão de mar; ele veio mais ao leste, leste mesmo.

E o casal – acredito que seja um – plana sobre o mar. Suas poderosas asas permitem essa façanha. Sobrevoam em círculos, creio que procurando alimento, já que a maré estava baixa e provavelmente avistavam algo na barreira de corais. Li mais tarde que essas aves não são boas pescadoras. Tempos depois, desistiram da empreitada e seguiram caminho. Eu também segui o meu, mas curiosa em saber mais sobre a espécie.

Descobri que são aves marinhas migratórias, que passam a maior parte de suas vidas no oceano. Pousam na costa ou nas ilhas para se alimentar, reproduzir e cuidar dos filhotes. Normalmente cuidam de apenas uma cria. No mundo, existem 22 espécies, e apenas seis delas interagem em águas brasileiras.

Certa vez, assisti a uma reportagem sobre Abrolhos e filmaram o acasalamento de um casal. Um ritual de oferenda de gravetos ao namorado(a). Esses são utilizados na construção de seus ninhos.

Querendo saber mais sobre o albatroz, deparei-me nas pesquisas pela internet com o poema O Albatroz, de Charles Baudelaire, poeta francês¹. Ele é considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman².

Baudelaire denomina o gigante dos ares oceânicos como “viajor alado”. Na poesia, compara o desajeito do albatroz para caminhar em solo ao do poeta, e seu desajeito para as exigências da nova ordem imposta no seu tempo: Baudelaire – 1821-1867.

Fiquei com o enigma de qual espécie de albatroz seriam os esnobes que passaram por mim. De onde vieram e para onde iriam? O que presenciei foi um espetáculo no mar, e quero saber mais sobre eles.

Referências

1- O Albatroz – Escritas.org

2- Projeto Albatroz

Sandra Belchiolina

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