O corpo fala

Silvia Ribeiro

Jamais pensei que você fosse aquela pessoa conclusiva. Muito pelo contrário!

Você era uma versão que vinha com códigos, com telas de proteção, e com emoções a serem desvirginadas.

A sua possível timidez sempre relatou uma polidez em demasia, e uma originalidade impecável quando o assunto era nós dois. E chegar as vias de fato não era o seu ponto de partida.

Embora o seu querer fosse inquietante diante do meu, esperava algum descuido que revelasse o seu gestual e um despreparo da sua razão para esquecer a sensatez. E com o passar do tempo fui aprendendo a absorver os seus sinais e tudo aquilo que você silenciava.

Uma passada de mãos nos cabelos esbravejando a sua impaciência, um sorriso safado querendo uma chance, e um jeitinho engraçado de segurar o queixo negociando com os seus instintos. Sem dizer aquela mordidinha nos lábios sorrateiramente querendo alcançar os meus.

Nossa! Como eu gostava disso.

Vi muita coisa por trás da sua vontade desnorteada, do seu gingado pedindo para entrar na minha vida, e daquele seu excesso de cuidados com os meus sentimentos.

Notei uma negação impertinente diante do que o seu coração pedia, da admiração correspondida, da curiosidade que o meu vestido te provocava, e do caos que os meus olhos te faziam se sujeitar.

Entendi todo aquele contentamento que não cabia dentro da sua camisa, o seu toque despertando as minhas fantasias, e o seu tesão se disfarçando de forte.

Experienciei um pulsar de desejo jamais sentido, um abraço que eu poderia chamar de felicidade, e uma saudade com os minutos contados.

E quando silenciei – ouvi o seu corpo falando o tempo inteiro.

O corpo fala!