Política era assunto muito distante de nossa realidade, naquela fase de criança, em Monlevade. Mas a mudança abrupta do governo, em 1964, foi tão marcante que, mesmo naquela encosta de morro onde se situava a Vila Tanque, onde nasci, o assunto ganhou importância. Mas a falta de conhecimento produzia análises e debates bem escabrosos. Dizia-se que determinado candidato, preocupado com os acidentes quando da falta de freios nos carros inseguros da época, prometia “aplainar” a cidade. Não haveria mais tantos sobes e desces. Tudo “o mais plano possível”.
Ao mesmo tempo, as pessoas mais ligadas à fé católica começavam a perceber o ainda incipiente crescimento das igrejas evangélicas que prometiam o céu na terra. Ou seja, entendiam que a vida plena e cheia de felicidade era uma realidade para os que congregassem ali. Talvez por isso, ganhava corpo uma versão atualizada do “demônio”. Da figura canhestra, com chifres, pernas e pés de bode, rabo com um triângulo na ponta, exalando enxofre e olhos vermelhos, passou a ser percebido como muito mais aterrador. Agora o “diabo”, o “pai da mentira”, deixa de ser físico e passa a ser “influência”, pensamentos pecaminosos contrários às escrituras. Não sendo visível, pode “tentar” pessoas em seu íntimo, sem ser visto, apenas sentido. Com a mudança o materialismo assume espaços maiores, pois se o mal acontece agora, também a pujança no usufruto de tudo o que foi criado para o homem deve ser experimentado em vida, agora.
Outras tantas promessas, mais próximas de nossa realidade interiorana, ou mesmo em nível pessoal ajudavam a transformar futuros incertos em possibilidades alvissareiras. Se você estudar bastante, tirar notas altas e cumprir suas obrigações escolares com organização, método e empenho, poderá ser um médico ou engenheiro, no futuro. Promessas dessa ordem eram bem interessantes porque não haveria, em tese, a quem cobrar o seu não cumprimento. Talvez a própria pessoa que, mesmo assumindo a responsabilidade de cumprir, ainda assim poderia não atingir o objetivo. Porém sempre haveria uma “razão plausível” para isso, como faltar um ou dois dias de aulas. Entregar algum trabalho fora do prazo, entre outras,
Dentre as promessas que ouvi, uma em especial, de uma vizinha muito simpática e gentil foi de que, se eu tomasse sol nas pernas em dias quentes e as mantivesse agasalhadas nos dias frios, eu me recuperaria da paralisia infantil. Era de boa-fé, mas não tinha suporte científico. Outro vizinho, menos simpático, mas não de todo mal, observou, certa vez, que minha condição seria um castigo divino. Nuca explicou o que uma criança de seis meses de vida teria feito de tão ruim para merecer um castigo daquela magnitude. No entanto citou que um dos cognomes do diabo, referido na Bíblia era: o Cocho. E eu, com efeito, era cocho. Hoje me rio daquelas crendices brincalhonas ou ofensivas e me apego, com afinco, a essa tarefa de tentar conscientizar as pessoas da necessidade de proteger nossas crianças através da vacinação. Afinal imagino que ninguém gostaria de ter como filho “o Cocho”.
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