Taís Civitarese
Por que alguém que mora no Brasil, onde há lindas praias para se aproveitar o verão, resolve viajar em janeiro para os países nevados do hemisfério norte com a finalidade de esquiar? Há inúmeras razões. Entre elas o modismo, curiosidade, não gostar de praias, apreço genuíno pelo esporte, acompanhar a família.
Vi-me mais uma vez nesta última categoria, ao lado de meu marido e de meus filhos que pertencem à penúltima. E lá fomos nós para um lugar branco e congelado em mais uma empreitada desta atividade.
A viagem em si é muito prazerosa. Envolve cenários que remontam às histórias da infância, bonitas paisagens diferentes para nós, brasileiros, comidas quentes e calóricas e a diversão de se vestir com gorros e cachecóis, algo também raro em nosso clima tropical.
A parte do esqui é definitivamente a mais dificil, com seus muitos equipamentos e camadas de roupas, incluindo botas apertadas e pesadas, capacete, óculos, luvas, casaco e calças impermeáveis, hastes para segurar e, é claro, as pranchas dos pés.
Em seguida, tem o transporte até a montanha onde fica a estação de esqui, o qual muitas vezes precisa ser feito a pé ou de ônibus em posse de todo o aparato deslizante.
Ao pé da montanha, existe o “bondinho” que nos leva até o alto para enfim descermos esquiando pelas pistas. E a verdade é que, até chegar lá em cima, já estamos, muitas vezes, completamente exaustos.
Fui uma pessoa que fez 126 aulas de direção até aprender a dirigir. Guiar um carro era, para mim, um desafio quase impossível. O mesmo aconteceu com esquiar. Desconheço esporte mais difícil e em que tudo é desconfortável – exceto a paisagem – até que se esteja plenamente apto a praticá-lo.
Esse ano, após dez tentativas anteriores, consegui atravessar desafios que pareciam instransponíveis. Velocidade, curvas, controle e equilíbrio finalmente se acomodaram com algum sentido dentro de meu cérebro e consegui me virar de forma razoável nesta aventura radicalmente prazerosa. O progresso não me impediu de cair diversas vezes, sendo duas delas com a cabeça – devidamente protegida – contra o chão. Entretanto, tive a mesma sensação que senti ao tirar a carteira de motorista: a conquista de algo muito difícil após inúmeras e inúmeras tentativas.
Vencer um desafio traz muito gosto. Tal gosto se estende a vários campos da vida. Provoca a sensação generalizada de que é realmente possível superar coisas difíceis com esforço e persistência.
Essas férias, para mim, representaram isso. Além da grata oportunidade de descanso e higiene mental por vislumbrar as belezas da natureza, a chance de aprendizado e fortalecimento da autoconfiança com o progresso advindo do esforço.