Mandei fazer um colar novo. Um colar todo feito de elos. Cada elo conta um caso porque foi feito a partir de uma coisa antiga que eu tinha. Ao derreterem-se todas, foi formado esse fio enlaçado e brilhante.

Um brinco de bebê sem par.
Um cordão arrebentado na pressa de me vestir.
Um anel quebrado de tanto ajustar.
Um par de brincos antigos que ganhei da mãe do intercâmbio, aos 17 anos, na cidade de Bath, na Inglaterra.
Um pingente judaico encontrado em casa que não sei direito a origem.
Um anel que era da minha mãe e perdeu a pedra.
Um anel que minha sogra me deu de aniversário anos atrás.
Duas plaquinhas com a cruz de malta que ganhei de um amigo de meu pai na formatura em Medicina.
Um brinco único que era da minha irmã, cujo par perdi na rua ao descer de um táxi.

E assim, tudo junto ganhou uma nova vida, um novo brilho e veio compôr novas histórias.

Somos assim também, feitos de coisas antigas aglutinadas. De algumas partes sozinhas, tortas, arrebentadas, perdidas. Ao ver esse colar tão bonito, percebo que mesmo um monte de pedaços sem pé nem cabeça podem formar juntos algo bonito.

Que nesse 2025 sejamos a lustrosa cadência de todos os componentes que nos construíram. Que com nossos defeitos, quebras, perdas e belezas, os pedaços que nos formam sejam revestidos de transformação e possam emitir um brilho novo quando admitidos como partes indispensáveis de nossa atual inteireza.

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