“Quantas belezas deixadas nos cantos da vida…”. Assim começava um dos sambas mais tocados em 1972, ano de lançamento da música “Esperanças perdidas”. Foi gravado pelo excelente conjunto “Os Originais do Samba”, que contava, então, com o ótimo e saudoso comediante Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum dos “Trapalhões”. A letra observa que, muitas vezes, somos impelidos a desistir de sonhos por sua realização aparentar ser mais difícil do que, na maioria das vezes, o é realmente. Essa percepção cabe perfeitamente na conjuntura atual, em que a força e o conhecimento de cada um parecem insuficientes ante a célere tecnologia e a política sem face, que esmaga a quem delas diverge.
Esse turbilhão que nos arrasta pelos espaços e pelos dias, transforma nossos esforços em nada, se nos deixamos abater pela angústia de um viver solitário, de uma vida sem o bem-querer de amigos e familiares.
Temos hoje uma baixíssima taxa de natalidade. A segunda menor das américas, perdendo apenas para o Canadá. A realidade é que o Brasil está se tornando um país de idosos sem ter alcançado a estabilidade política e social da Europa. Acrescente-se a tudo isso, o estigma da deficiência física ou sensorial e teremos o modelo primoroso de perdas e sofrimentos além do comum.
No primeiro dia de 2025, o aparelho ortopédico que utilizo na perna esquerda sofreu uma pane e tive uma queda dolorosa que feriu o braço e o ombro esquerdos, culminando também com a dobradura severa do pé esquerdo, já sequelado pela poliomielite. A minha grande sorte ante o desastre é que me davam a honra da presença, o filho, a filha, o genro e os três netinhos. Os adultos me auxiliaram e pude chegar ao Pronto-Socorro para um atendimento emergencial. Durante todo o percurso de ida e volta me assombrou a perspectiva de estar sozinho nesse infausto evento em que não conseguia sequer me erguer daquele chão frio em que estatelei, como um tronco carcomido na raiz. Ainda me causa pânico.
O sinistro chegou como um terremoto assustador em minha vida. Pensei profundamente no distanciamento entre as pessoas, em sua busca isolada pelos próprios sonhos e objetivos, quase sem chances de partilha nem do caminho nem dos resultados. E isso é, deveras, triste e, aparentemente, sem racionalidade. Lembro-me, como relatado em outro artigo, do ano passado, que fizemos um passeio de férias e quase tudo naquele lugar para onde fomos nos estimulava a voltar: chuva demais; falta de acessibilidade; apenas dois quartos ocupados naquela pousada que dispunha de dezesseis; dificuldade de encontrar comércios abertos. Enfim, num primeiro olhar, uma calamidade. No entanto, a companhia da pessoa amada e seu sorriso, ainda que um pouco sem graça, tiveram o condão de transformar uma situação adversa em plenamente suportável ou até agradável.
O distanciamento entre as pessoas está retirando a cor dos dias. E cada vez mais acredito que é urgente reencontrar as esperanças na comunhão com amigos e parentes, nos abraços e beijos que precisam ser trocados sempre, com amor.
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