Recentemente, ao estudar sobre o luto, tomei maior consciência sobre a importância dos rituais de passagem. Aparentemente, sem esses ritos, por vezes o cérebro não registra de forma adequada os acontecimentos marcantes. Ou não se dá conta das devidas ações que serão requeridas para lidar com a vida depois deles.
As festas de réveillon sempre me soaram como algo estranho. Sem o apelo afetivo do Natal, que acontece tão próximo, parecia desproporcional toda a função envolvida na virada do ano, a começar pela escolha de roupas específicas, comidas com karma positivo, bebidas, música, roupas de baixo de cores determinadas, simpatias, lentilhas, pulos com o pé direito e contagens de sementes para armazenar em amuletos dentro da bolsa durante os próximos doze meses.
No dia seguinte, o trabalho me esperava da mesma maneira. Os meus bebês choravam da mesma forma, pedindo a mesma mamadeira ou o mesmo brinquedo, sem que nada do auê da noite anterior parecesse ter lhes afetado.
Há pouco tempo, um de meus filhos fez aniversário e percebi que ao invés daquela data lhe parecer comum ou uma arbitrariedade que nós adultos consideramos significativa, ele acordou de fato com um certo lustro. E este o acompanhou ao longo de todo o dia. Seu tórax empertigou, suas bochechas coraram e os fios de seu cabelo refletiram o sol em um ângulo diferente, um pouco mais aberto, do qual o fulgor dos raios emergia bastante difuso e especialmente reluzente. Apesar de não termos feito festa – pois comemoraremos em outra ocasião -, ele fez questão de soprar velas e de receber cumprimentos.
Lembrei-me de quando o caçula completou cinco anos e olhou para o espelho do elevador dizendo que, por ser seu aniversário, tinha crescido naquela manhã.
Tudo isso me fez concluir que, sem as rebordosas alegoríficas que inventamos para colorir e demarcar a vida, restam-nos realmente poucas opções. Talvez, apenas os livros e o silêncio que, apesar de não serem ruins, podem representar pouco dentro de uma longa existência. Podem ficar devendo aos gracejos, ao sabor de uma comida gostosa, às companhias divertidas ou ao prazer de se usar uma blusa nova. Diante de alguém jogando caroços de uva por cima dos ombros ou portando uma fita vermelha no braço – porque leu em algum lugar que aquilo lhe traria sorte – reconheço que são exatamente esses os pequenos comemorativos que assinalam o passar do tempo. São o que previne que se viva demasiadamente distraído e compõem os ornamentos das memórias, das conquistas e dos sonhos.
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