Categories: Silvia Ribeiro

Amadores

Silvia Ribeiro

Somos todos amadores na arte de amar.

É um desacerto querendo acertar, uma linha torta querendo endireitar, um desvio com pressa de chegar. Umas doidices aqui e ali.

Não amamos apenas por afinidades, por estética, sintonia, ou lógica. E tantos outros “algo mais” que lembram um labirinto sem fim.

Amamos por desaforo e desobediência. Sabe aquele ser que te desdenha? É esse que vamos conquistar custe o que custar. É um lance que não descansa dentro da gente e escolhe ser notícia de primeira página, surpreendendo até as mais desavisadas previsões.

E quando percebemos já somos uma irreverência querendo marcar território sem ao menos varrer o chão. Aí, salve-se quem puder!

Amamos por avessos. A pessoa é completamente incompatível, do tipo água e vinho. Mas ainda assim, investimos nessa misturinha acreditando numa parceria em pé de igualdade.

É aquela parte do cérebro que quer pagar pra ver, que jura que vai tirar da cartola a fórmula mágica da mudança, e que vai mudar a pessoa como se muda uma fotografia no porta-retrato.

E amamos por descuido.Você está transpirando liberdade, pensando em tudo, menos em se envolver. E um destemido(a) se revela e transmuta o seu nascer do sol, reacende os seus faz de conta, e coloca um imã no seu celular.

A criatura sabe como ninguém pontuar as suas extravagâncias.

E amamos por curiosidade. Você está com feridas abertas dentro do peito, com a sensação de que o mundo acabou e não te avisaram, e com uma preguiça desconcertante de viver.

Inesperadamente, surge alguém com uma sinceridade viril, com um viajar que junta melodia e rima, com uns dizeres que te ancora, e com uma inteireza que impede o medo de entrar.

Mas você diz a si mesma- por mais que esse desempenho pareça dissemelhante, não me fisga. E coloca em prática a velha frase- “brincar com fogo”.

Uma linha tênue entre a diversão e o envolvimento, que te leva até a uma pracinha e te prova que é mais forte do que aquela segurança que você carrega de um lado pro outro.

É como se viesse uma onda de espuma e fosse te amaciando, uma surpresa boa mudando o seu sorriso, uma magia que vai encontrando o que você precisa.

Um olhar que fala e te mostra as delícias do amor e do sexo no mesmo lugar, com uma capacidade fresquinha de dar ao coração a poesia que ele merece.

Penso que é a vida, os Deuses e Deusas do amor, ou as coisas estranhas do mundo incluídas nessa trama, dizendo- perdeu neném.

Blogueiro

View Comments

Share
Published by
Blogueiro

Recent Posts

Prenda-me se for capaz

Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Finalmente transformado em réu pelo STF, a questão que se coloca é:…

5 horas ago

Resgate

Peter Rossi A vida nos propõe revanches, que costumamos chamar de resgates. São derrotas anteriores…

19 horas ago

Redução de danos

Taís Civitarese Agora, aos noventa anos, devo confessar um crime que cometi ao longo de…

2 dias ago

Momento fugaz – o universo e seus espetáculos

Sandra Belchiolina “Existe um momento na vida de cada pessoa em que é possível sonhar…

3 dias ago

Citius, altius, fortius

Daniela Piroli Cabral contato@danielapiroli.com.br Dizem que à medida que envelhecemos o tempo costuma passar mais…

4 dias ago

“Não quero ter razão, quero é ser feliz”

Eduardo de Ávila Muito antes de Ferreira Goulart lançar essa pérola para a humanidade, confesso…

5 dias ago