Conheço meu amigo Paulo desde a adolescência. Quatro anos mais velho que eu, sempre me diverti com as suas histórias.
Na rua, Paulo andava sempre atento, olhando pro chão pra tentar achar dinheiro, o que várias vezes aconteceu. Na escola, assim que tocava o sinal do recreio, ele, que estudava no segundo andar da escola estadual, descia abraçado na pilastra para ser o primeiro a pegar a merenda na cantina.
Quando jogávamos futebol na rua, ele, sempre descalço, atirava seu chinelo na bola para impedir que a equipe adversária fizesse um gol. O mais surpreendente é que, além da sua mira certeira, tal artifício sorrateiro era tido como válido na partida. E jogo que segue.
Já na idade adulta, para pagar sua faculdade particular, Paulo pegava dinheiro emprestado a juros com o senhor Alvim, dono de um armarinho que antigamente vendia de um tudo, mas que naquela época sobrevivia apenas pela agiotagem.
Assim, Paulo virou um agiota de um agiota.
Sei que levou alguns calotes, mas como seguiu por alguns anos fazendo essa gambiarra financeira, acredito que tenha tido algum lucro com sua agiotagem tercerizada.
Diferentemente dos agiotas convencionais, Paulo não ameaçava matar seus clientes inadimplentes. E daí ficava quase tudo por isso mesmo, apenas com Paulo propagando a fofoca sobre o mau pagador.
Com o armarinho fechado devido ao falecimento do Sr Alvim, Paulo ficou livre de suas dívidas. E foi a vez se aventurar na onda das pirâmides financeiras, criando várias contas na TelexFree. Aos que não se lembram, essa empresa usava como fachada ser provedora de telefonia via internet (VoiP). Quando começaram as investigações, foi que soube que TelexFree era o nome fantasia de uma empresa chamada Ympactus Comercial S/A.
Antes mesmo das conclusões da Polícia Federal, só pelo nome impactante com esse Y cretino, eu já percebi que era uma empresa caozeira.
Paulo fez contas para sua namorada, familiares e até pra sua mãe, obviamente pegando parte do lucro obtido nesse investimento.
Assim, Paulo criou para si uma nova ocupação: virou agiota de pirâmide financeira.
Quando a pirâmide ruiu, Paulo ficou devendo na praça e queimado com sua família. Seu namoro terminou, mas, suas dívidas, não. E ao longo de quase dois anos todos os meses ele depositava dinheiro na conta da sua ex-namorada.
Como vergonha pouca é bobagem, Paulo quase foi em uma manifestação na praça 7, organizada pelos antigos clientes da TelexFree. Com muita insistência, eu e um amigo conseguimos demovê-lo da ideia de passar recibo de otário em rede nacional.
Paulo então migrou as máquinas caça-níquel nos butecos copo-sujo. Daí, ele que não bebia, passou a viver dentro de bares com os bolsos cheios de moedas para fazer suas apostas.
Quando os amigos telefonaram pra ele, ele disfarçava e dizia que estava no supermercado ou em alguma agência bancária. Mas bastava passar na porta dos bares para vê-lo em pé, vidrado nas máquinas de caça-níquel. Ou então jogando sinuca valendo dinheiro. Paulo usava a desculpa esfarrapada de que estava recuperando o dinheiro perdido e que mais ganhou do que perdeu nesse jogo de azar.
Veio a pandemia e Paulo teve que sair dos bares. E então começou a jogar Dama online valendo dinheiro. Infelizmente não tenho informações se ele se deu bem em suas disputas, só sei que, antes disso, ele jamais me disse que gostava de jogos de tabuleiro.
Paulo, sempre visionário e oportunista, começou a organizar Bolão para as Copas do Mundo de futebol e também para o Campeonato Brasileiro.
O fato inusitado é que, quem organiza o bolão tem como regra não participar, para impedir qualquer desconfiança de armações. Mas Paulo não deu bola para esse impedimento ético e, além de apostar, criava contas fantasmas para sua mãe e familiares.
Assim, Paulo ganhava como organizador e ainda apostava em várias frentes como participante.
Imaginava a mãe do Paulo, uma senhora de quase oitenta anos que só sai de casa para ir à missa, apostando em placares tão improváveis como Suíça X Camarões na Copa do Mundo.
Quando veio a recente febre das Bets, foi então que Paulo mergulhou de cabeça. Finalmente Paulo conseguiu a sua liberdade para empreender financeiramente sem precisar sair de casa.
Basta o celular na mão e Paulo pôde sair do ambiente insalubre dos botecos de bairro, respirando o odor de Derby vermelho e dobradinhas. Já não precisa andar pelas ruas olhando pro chão e muito menos arriscar sua vida na descida da pilastra para merendar mais cedo.
Paulo está no ataque, de frente pro gol. Só precisa ter a frieza, sorte e intuição para, finalmente, ficar rico sem trabalhar.
Ele, que é personal trainer, diz que as Bets são a sua segunda fonte de renda. E que não faz loucuras, como seu cunhado, que saiu do trabalho para viver de apostas.
Recentemente ele me pediu emprestado o número do meu CPF para criar uma conta para ele apostar, me prometendo uma gratificação caso ganhe. Segundo ele, as plataformas esportivas estão restringindo suas apostas.
Obviamente, desconversei e saí de banda feito um peixe ensaboado. Soube que ele fez o mesmo pedido para um amigo em comum, que também não aceitou alegando receio em ter problemas na sua declaração de renda.
Paulo tem uma renda modesta em seu trabalho, um Uno Mille e ainda está pagando seu pequeno apartamento. Casado há dois anos, não tem filho nem vícios. Quer dizer, sempre foi viciado em mentir e agora se viciou em apostas.
Mandei esse vídeo para ele, que informa sobre os algoritmos matemáticos que fazem que, à médio e longo prazo, os apostadores sempre percam dinheiro.
Avesso à informação, Paulo me respondeu apenas com um: “top”.
Outro dia o encontrei na academia e lhe chamei de “Paulo Bet”.
Pela sua cara, acho que não gostou.
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