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O Cinema

Peter Rossi

Talvez o cinema não exerça sobre os mais jovens o mesmo fascínio que provocava em outras gerações. E isso pelos mais diversos motivos. A tecnologia chegou à palma de nossas mãos. Várias são as mídias disponíveis. A cada dia que passa a qualidade de imagem e o universo de telas se incrementam.

Outros pensarão que não há mais a necessidade do escurinho do cinema para roubar beijos da namorada. Beijos hoje são distribuídos à torto e à direto, em qualquer lugar. Romantismo, o sentar perto, sentir o cheiro e a respiração ofegantes são sensações que os telefones celulares se recusam a permitir.

Ir ao cinema às matinês? Que despropósito, temos diversas outras opções digamos mais dinâmicas, responderão os jovens.

Há gosto pra tudo. Eu não dispenso um cinema por nada desse mundo. Quem são os telões residenciais, meros avatares. Por mais que a aparelhagem permita sons e imagens de última geração, eles não trazem em si a atmosfera do cinema.

Falo sobre o tema porque na semana passada conversava com amigos do Instituto Histórico e Geográfico, na minha terra, e eles me fizeram lembrar de momentos excepcionais.

O cinema era quase que artesanal. Imensos rolos de filmes a girar numa máquina enorme, que insistiam em soltar-se de onde deviam estar, interrompendo a “transmissão”. Isso quando não ficam agarrados nos projetores e sobre a tela se via nascer bolhas de acetato a destruir as imagens.

Me lembro bem desses tais rolos que vinham em caixas redondas, de metal. Aliás, existe um filme chamado “Cinema Paradiso”, uma produção italiana de 1988 em que o personagem Toto, um menino, se apaixona pela sétima arte. E, para manter incólume suas lembranças, colando pedaços de filmes uns aos outros, construiu uma sequência de cenas de amor, das mais belas que o cinema em si já produziu. Obra prima da sétima arte.

Aliás, qual a razão do cinema ser chamado de sétima arte? Vocês sabem?

Depois de pesquisar, atualizei meus conhecimentos sobre o tema. São quatro os pilares a formar a cultura humana: as artes, a mística, a filosofia e a ciência.

Os gregos – sempre eles – dividiram as artes em superiores e menores. Seis delas compõem o grupo das Belas Artes: a arquitetura, a escultura, a pintura, a música, a literatura e a dança. Seis, ao todo.

Um teórico e crítico de cinema, pretendendo afastar a imagem de que o cinema era um produto de massa, cuidou de trazê-lo para a equipe. Seu nome? Ricciotto Canudo.

Curiosidade satisfeita, sigamos com a história.

Na minha cidade existiam três cinemas. O Cine Ouro, inaugurado em 1940, o Cine Teatro Municipal, de 1943 e o “Cineminha”, de 1951. É preciso lembrar que existiu, ainda que por parco período, o “Cine poeira”, cujo nome derivava mesmo das suas condições de limpeza e higiene. Morreu logo, o coitado.

Como Nova Lima era uma cidade muito pequena, dispondo de parcos recursos, era alugada uma unidade apenas de cada título. Assim, a solução encontrada era alternar os horários das sessões entre as salas. Dessa maneira, o filme no Cine Ouro começava sempre trinta minutos antes do que no Cine Teatro Municipal. O Cine Ouro ficava – fica até hoje – na parte alta da cidade, num município que só morros tem, enquanto o Cine Teatro Municipal se encontra belo e imponente na principal praça, justamente na parte mais baixa.

Antes dos filmes, além de notícias populares, eram transmitidas as séries, como Zorro, por exemplo. O filme em si demorava uns quinze minutos para começar. Para a projeção de um filme eram três ou quatro rolos. O que fazia então o encarregado do Cine Ouro? Assim que terminava o primeiro rolo, além de colocar no projetor o segundo, entregava o que fora projetado para que meninos levassem, pelas ladeiras da cidade, ao cinema que ficava na praça.

Era muito comum, aos domingos, no final de tarde, nos depararmos com meninos a rolar as caixas de metal de um cinema ao outro.

O divertido, entretanto, era quando um dos moleques deixava escapar a “roda”, que logo ia estatelar-se no muro de uma das casas da rua principal. Era uma agonia a dos meninos ao tentar enrolar as fitas dos filmes, na correria. E, certamente, a história passada no Cine Municipal nem sempre era exatamente igual àquela que rodou no Cine Ouro …

São lembranças felizes de um tempo em que pequenas nuances eram capazes de alterar muita coisa. Um rudimentar transporte de rolos de filmes podia alterar a história do cinema.

Mas, apesar disso, continuemos apaixonados por nossas salas de projeção às escuras. Armados com um saco de pipocas de um lado, e um refrigerante do outro, deixemos que nossas emoções, mescladas às imagens da tela, nos levem aos paraísos nos quais merecemos viver!

Viva o cinema!

Blogueiro

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  • Viajei numa época que a diversão maior era a matinê nos cinemas de rua. Comprar bala Frumello no hall de entrada, acompanhar o lanterninha para achar o nosso assento.... Esperar o leão da Metro dar as caras??Quem não chorou em 'O campeão '? Quem não assustou em"Tubarão"? Balançou as pernas em 'Grease' e ' Nos embalos de sábado a noite '?? Ou sentia o maior prazer gastronômico quando ia lanchar na Sears ou na Torre Eiffel depois do filme? Eta saudade....
    Confesso e concordo com você, Peter: não há aparelhagem moderna de uma casa que se compare à boa e velha sala de cinema!

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