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As fotos das núpcias

Mário Sérgio

Vi recentemente, em um filme, adolescentes encontrarem entre as coisas guardadas de sua mãe, uma máquina de escrever manual e uma câmera fotográfica analógica, com filme. Muito interessante aquela “impressora direta”, que imprimia ao tempo em que se digitava. Na câmera procuraram sem sucesso a “tela”. Encontraram apenas um visor mínimo. Para acessar, deveria estar bem próximo do olho de quem pretendesse obter uma foto. Havia também um “rolo de filme” que demandava equipamentos próprios para “revelar” e só então imprimir as fotografias. Pareceu-lhes um processo jurássico, inclusive porque o “serviço expresso” para produção das cópias, levaria sessenta minutos. Para os dias atuais, em que os resultados digitais são imediatos, aquilo pareceu uma eternidade. Uma hora inteira? Que coisa!

As cenas, propositadamente desenvolvidas de forma a causar risos ao espectador, me fizeram visitar as experiências de um passado recente.
Foi o meu primeiro casamento. O cartório do bairro Gameleira, em BH, estava quase deserto àquela hora, na manhã do casamento. A bela noiva sorridente, bem mais alta que eu, mais umas poucas pessoas, incluindo os padrinhos e os funcionários daquela organização. Não houve, ou não me lembro de ter havido, fotos do evento. Talvez por se tratar de uma formalidade, pois o casamento religioso ocorreria em breve, na igreja São Luiz, atrás da Feira Coberta do Padre Eustáquio.

Eu estava ainda convalescendo pelo reimplante da mão esquerda que fora amputada integral e traumaticamente enquanto fazia um trabalho com uma serra circular. A cirurgia, efetuada no Hospital Sírio e Libanês, em São Paulo, foi iniciada por volta da meia-noite, enquanto o acidente ocorrera por volta da cinco da tarde. O lapso temporal exigiu a conservação da mão, separada totalmente do braço, em um recipiente com gelo e isso causou queimaduras profundas e, consequentemente, a necessidade de transplante de pele e de vasos sanguíneos. No total, foram nove intervenções com retirada de tecidos do pé menos afetado pela sequela de poliomielite, da virilha e da cocha.

Chegou o dia de festa pelo casamento. A falta de hábito tornou o terno e a gravata um tanto desconfortáveis. A noiva estava linda e nervosa o suficiente para ter de ser lembrada por alguém próximo para calçar os sapatos, pois já estava se encaminhando para o evento descalça.

Na igreja, o fotógrafo, um amigo taxista recém-chegado dos EUA, registraria o enlace matrimonial com sua espetacular câmera, última geração, com bateria recarregável. Mas por alguma razão, chegou atrasado. Sem problemas. Haveria uma recepção aos convidados, que nem eram tantos assim, na casa dos pais da noiva, no bairro Paquetá. Estávamos, quase todos, muito felizes. Que dia memorável.

Início de uma noite perfeita, a cabeça cheia de projetos e esperanças, a festa simples, preparada com disposição, nos aguardava.

Melhor não mudar ainda o terno nem o vestido branco. Esperaríamos o fotógrafo para os devidos registros.

Muitos sorrisos, cumprimentos, felicitações.

O fotógrafo chegou, mas precisava de uma tomada para carregar a moderníssima máquina fotográfica. Fácil. Desafortunadamente, houve queda de energia que durou uma eternidade…

Blogueiro

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  • Muito interessante, pensar que nem faz tanto tempo assim. Gostoso ver as fotografias impressas por máquinas enormes, a expectativa de aguardar a revelação das fotos.
    Amei o artigo, parabéns Mário Sérgio!

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