Existem algumas palavras pelas quais tenho certo fascínio. Entre elas está a palavra ‘decadência’. Quando dita, provoca em minha mente uma viagem. Forma quase uma imagem figurativa de algo que um dia se encontrou no apogeu e que, no presente, está em deterioração.
Imagino castelos rotos pelo tempo, objetos amarelados, tecidos corroídos e manchados e grandes salões vazios. Imagino uma gordura oxidada recobrindo as coisas. Imagino também um cheiro de cigarro em um ambiente com móveis avermelhados e brilhosos, sobre um dos quais repousa um copo de uísque. Ali também há machismo e alguém vestindo uma camisa de botões esgarçados por um avantajado abdome.
Percebo que decadência tem amplo significado. Ela não se atrela somente a lugares. Atrela-se também aos hábitos, a um tempo e, principalmente, às ideias.
As ideias em decadência têm ranço. Têm revestimento opaco. Trazem consigo a aura de um erro, o ruído da obsolescência. Deveriam por bem encerrar-se nelas mesmas.
Entretanto, ainda vejo o fantasma de várias delas circulando. Percebo cenas deslocadas da época em que vivemos. Hábitos que a ciência já provou ruins. Falas que o esclarecimento demonstrou serem irracionais. Atitudes que parecem espectros de uma época ultrapassada.
A decadência me deprime. O orgulho em pedra bruta me deprime e principalmente, a estagnação do pensamento.
Nosso corpo padece, a pele seca, as juntas entortam. Tudo em nós perece. A única coisa que podemos manter fresco e vivaz é o nosso pensamento. Enquanto o fizermos, embora não escapemos de ser velhos, manteremos aceso um certo lampejo de vida. E nos livramos de decair em meio a eflúvios de naftalina em que o único valor atribuído será a memória.