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Ainda Estamos Aqui: Lembramos para Nunca nos Esquecer

Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

O filme homônimo do livro de Marcelo Rubens Paiva – Ainda Estou Aqui – está em cartaz nos cinemas brasileiros desde o dia 07 de novembro de 2024. Sua narrativa é emocionante e celebra a memória de sua mãe lutadora, Eunice Paiva. No filme, o papel é interpretado por Fernanda Torres e, em sua versão mais velha, por sua mãe, Fernanda Montenegro.

A história é narrada desde a infância de Marcelo, quando ele morava à beira da praia do Leblon, no Rio de Janeiro. Mostra suas relações familiares, as amizades, os momentos de brincadeiras e encontros, até o grande trauma causado pelo desaparecimento de seu pai, levado para depor pela polícia e nunca mais visto – em 1971, época da ditadura militar no Brasil. Em um clima de tensão, o filme nos transporta para esse período trágico, com um cenário de época perfeitamente reconstruído pela equipe do diretor Walter Salles.

O enredo possui três eixos principais: o primeiro é o cotidiano de um casal com cinco filhos – a casa, seus afetos e sabores. O segundo é a erupção de um real absurdo que desestrutura a família, deixando-a ao léu, à mercê das ondas, em um profundo desamparo – a ausência do pai, uma ausência injusta, imposta por um sistema político de absoluta repressão. O terceiro e mais digno é a trajetória de uma mãe de cinco filhos que consegue se reinventar diante desse horror que atingiu sua família.

É um filme que exala indignação, mas é carinhoso, contando as memórias de uma mulher que conseguiu se reerguer, tomando decisões penosas, como a de abrir mão de sua vida no Rio e mudar-se para São Paulo. Eunice entra para a faculdade, forma-se em advocacia, e trabalha em causas indígenas e de direitos humanos por toda a vida. Lutou pelo direito de “enterrar” seu marido, de obter uma certidão de óbito. Eunice lutou e lutou… Como seu filho, o autor, diz: “Ela é a verdadeira heroína dessa história.”

Sob ângulos diversos, Ainda Estamos Aqui mexe com a gente. Os cinemas estão lotados de jovens que não viveram sob uma ditadura e querem saber mais. O filme toca pela memória e vivência daqueles que sabem o que é ver planos familiares desmoronados e a necessidade de buscar novos horizontes. Ele emociona pela garra e luta de uma mãe que não tinha escolha senão reconstruir uma nova vida além daquilo que perdeu. Mexe pela sensibilidade, pela história e pelos diversos afetos. É um filme comovente cujo título diz tudo: Ainda Estamos Aqui – um tributo às memórias mais preciosas.

Blogueiro

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  • O título do filme e do livro é Ainda estou aqui. Tenho uma prima cujo marido foi à padaria comprar cigarros em 1968 e nunca mais voltou. Triste realidade. Ditadura nunca mais.

  • Parabéns Sandra! Você sempre comentando temas importantes para a nossa vida
    Para mim, particularmente, vai ser difícil de assistir. Vai mexer muito com o coração e a alma. Vivi essa época triste da nossa história. Lembranças apavorantes e muito, muito medo...#ditaduranuncamais!

  • Muito bom!
    Fundamental pra não esquecermos o passado, fundamentarmos o presente e não corrompermos o futuro! Bravo!

  • Muito bom, Sandra. Fundamental para não esquecermos o passado e para não corrempermos o fututo. Ditadura, nunca mais. Bravo!!!

  • Um filme, como bem disse Selton Mello, necessário. É uma forma de apresentar a quem não viveu de perto, e já são outras as gerações, os horrores da ditadura. Fiquei impactada, mesmo já conhecendo um pouco sobre
    aquele período vergonhoso ocorrido no Brasil. Parabéns pela crônica, Sandra!

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