Quando tive um filho menino, achei que ele iria gostar de futebol. Fiz essa associação simples, supostamente natural para quem nasce no contexto cultural do Brasil, ainda que o esporte não fosse grande objeto de interesse em nossa casa.

Comprei bodies de time que depois evoluíram para pequenos uniformes e destinei um clube específico para o qual ele deveria torcer (o único possível na família – exceto o vovô -, aqui neste blog e em todas as Minas Gerais).

Mal o bebê começou a falar, ensinei-lhe a gritar “galo” e aos cinco anos matriculei-o na escolinha de bola do professor Augusto, onde dava alguns chutes e participava de lúdicos campeonatos infantis. 

No entanto, algum tempo depois percebi que ali não era o seu campo. Ele preferia desenhar, ler, montar blocos e jogar videogame a fazer qualquer coisa relacionada à bola. Compreendi que esse era ele e parei de insistir. Fiquei satisfeita quando abraçou uma outra modalidade esportiva, o basquete, na qual evoluiu com a prática e mantém-se assíduo nos treinos.

Pouco tempo atrás, comecei a notar uma retomada futebolística em sua vida. Alguns comentários sobre os melhores jogadores do mundo, interesses sobre a data de alguns jogos do campeonato nacional e até um pedido inédito para ir ao estádio. Pensei se não seria por carinho ao irmão caçula – este sim um fanático! A resposta completa veio logo: os amigos.

É interessante observar como o futebol é um amálgama cultural quase universal de nossa sociedade. É um idioma à parte que em muito favorece a comunicação e o entrosamento entre meninos. Fiquei sabendo que até os colegas do basquete praticam futebol no recreio. E que estar alheio ao assunto relega o adolescente a certo isolamento.

As amigas mães com quem converso contam que os filhos têm por hábito chutarem qualquer coisa que lhes chegue aos pés, onde quer que estejam. Tampinha, pedrinha, o que for, é quase instintivo dominá-las com o jogo das pernas e direcioná-las precisamente para algum canto. Às vezes, acompanhadas de um comemorativo “gol!”. 

Concluo que, até o momento, não há Tik Tok que elimine esse valor enraizado na nossa cultura. Por mais que pareça às vezes que as novas tecnologias acabaram com tudo o que havia de analógico – livro, diálogo, atividades manuais -, aparentemente,  não. Observar meus meninos crescerem sem qualquer endosso ao futebol dentro de casa e com todo ele vindo do meio em que convivem mostrou-me o quanto essa instituição ainda importa por aqui.

Podemos não ser hexacampeões da Copa do Mundo, mas ainda somos sem dúvidas um país do futebol.

Tais Civitarese

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