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É preciso comemorar

Mário Sérgio

No dia 24 de outubro, quinta-feira, foi comemorado o Dia Mundial de Combate à Poliomielite. Uma doença viral, infecciosa, incapacitante e fatal. Até a década de 1970, causou milhares de mortes mundo afora e propiciou a milhões de pessoas alguma deficiência. Na maioria das vezes nos membros inferiores. A data, proposta pelo Rotary Clube Internacional, é uma homenagem ao mês de nascimento do cientista hebreu, novaiorquino, nascido em 1914, que disponibilizou o primeiro imunizante eficaz contra o Poliovírus, agente causador da patologia, em 1955.

Qual a importância de se comemorar essa data, levando-se em conta que o Brasil obteve o selo pela erradicação em 1994, cinco anos após o último caso registrado no País? Para se ter uma resposta simples, podemos fazer algumas analogias que facilitem o entendimento. Por exemplo, numa partida de vôlei, cada ponto marcado é muito festejado, ainda que seja o primeiro do jogo. É que essa atitude ajuda os competidores a manter o foco para evitar que o adversário cresça e se sinta confortável para atacar e, eventualmente, vencer a contenda. A “paralisia infantil” nome pelo qual também era conhecida a poliomielite, vive à espreita e não foi totalmente erradicada no mundo. Em países conflagrados, especialmente, há ainda surtos que podem chegar ao Brasil através da imigração. Tanto o Ministério da Saúde quanto a OMS, já reconheceram que o País está no Mapa de Risco para retorno da doença.

A pólio tem como hospedeiros naturais, os humanos. Não é transmitida por outros animais de forma endêmica ou por zoonose. Os hábitos de higiene de boa qualidade ajudam a prevenir, mas a única proteção eficaz é a vacinação, de que muitos pais e tutores vem se descuidando. Isso coloca nossas crianças e risco real. Só para se ter uma ideia, em 1952, no auge da Guerra Fria, quando o mundo ainda sofria o pavor de uma nova guerra mundial, uma pesquisa mostrou que o maior medo dos americanos era um embate colérico com a utilização de armas atômicas. O segundo, muito próximo, era o pavor daquela enfermidade que matava ou “aleijava” centenas de pessoas, a Poliomielite.

Ainda hoje são vistas pessoas com as sequelas da infecção, como é o caso deste que vos escreve. Portanto, para alguns de nós, ao ouvirmos o romântico grande sucesso de Roberto Carlos, Desabafo (1979), “Por que me arrasto aos seus pés? Por que me dou tanto assim?…”; a resposta à primeira questão seria: “Porque, sem apoios, é só assim que consigo me mover”.

Outra referência, mais recente, na deliciosa voz de Jane Duboc, Besame (1988), de Flávio Venturini e Murilo Antunes, a letra diz: “Abri meu coração, tremeu o chão”. Isso é uma realidade constante para as PcD, com danos nos membros inferiores, pois a sensação é contínua de desequilíbrio, como se o chão tremesse a todo o tempo. E no caso nem seria abrir o coração, muitas vezes a sensação é que ele vai pular do peito e fugir pela boca.

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