Como falar com Deus?

Silvia Ribeiro

Não posso crer numa magnitude infinita de um ser supremo que eu não (re)conheço.

Uma “santidade” que amedronta, que não tem ouvidos pra mim, que não sabe quando o meu silêncio tá gritando por socorro, e que não entende quando os meus olhos se esforçam pra não chorar.

Nem quero desenhar na minha retina a imagem de uma luz de vestes alvas, barba longa, e pele de nuvem. Uma força sobrenatural que não pode se sentar ao meu lado, que não me conta histórias, que não me permite recostar no seu ombro, e nem me deixa tocar a sua face.

Acredito que ao longo do tempo vamos cultivando aqueles ensinamentos que nos catequizam quando crianças sem ao menos questionar a sua veracidade. E isso vai nos deixando pouco à vontade diante dele.

Penitências, pecados, cobranças,  promessas, remorsos, orações repetitivas, infernos, medo- e toda uma gama de rituais que nos fazem praticar sem nenhum preparo.

Pra mim, a única maneira de falar com Deus é através do coração.

Olhar pra dentro de nós mesmos e reconhecer cada fibra de fragilidade que compõe o nosso ser, cada gota de sangue que colore os nossos erros, e cada célula que precisa de ajuda.Tudo isso, sem diminuir a nossa capacidade de uma reforma interna, e sem a severidade de penalizar a nossa alma.

Vejo a necessidade de perceber as nossas fraturas, chegar mais perto de tudo aquilo que nos tira o sono, e ter intimidade com a sujeira de pensamentos que impregna os nossos sentimentos. Só assim é possível tornar a nossa evolução menos brusca.

Sinto que Deus está na correria do dia a dia, na calmaria da noite, no tempo, no vento, em todos os lugares. Sem hora marcada e nem intérpretes.

Basta dizer- precisamos bater um papo.

Imagino grandes procissões de caridade e empatia por todas as ruas, alicerces de gratidão e perdão sendo construídos, a bondade e a fé namorando, e via-crucis de tolerância e milagres fazendo serenatas por aí.

E quero ver praças e parques pra que- “Deus” e o “Amor” possam brincar comigo.

E com quem mais vier…