Recentemente, assisti a um vídeo do escritor francês Edouard Louis em que ele dizia que gostava de escrever sobre as coisas feias do mundo para que fossem vistas e, consequentemente, consertadas. Segundo ele, falar de coisas belas e de finais felizes não lhe interessava, pois refere-se àquilo que já está em ordem e não ao que merece atenção.
Ao refletir sobre essa afirmativa, concordo bastante com ele porque a leitura de belas histórias é, por vezes, como uma anestesia. Oferece escapismo e nos distancia da realidade com todas as suas agruras. Desta forma, aquilo que nos previne de sentir também nos esquiva de agir, o que pode ter como consequências a alienação e a omissão diante dos problemas.
Entretanto, há momentos em que não se está disposto a encarar as facetas sombrias da vida e tudo o que se quer é leveza e alheamento.
Após a leitura de dois de seus livros, concluí que o que Edouard faz com maestria é descrever as dores humanas de maneira bela e, assim, demonstrá-las para nós sem tanto peso. Em “O fim de Eddy” ele fala de assuntos como homofobia, violência doméstica, negligência e alcoolismo. Fala também sobre as misérias de se viver em uma sociedade classista na posição desfavorecida dela. Em “Lutas e metamorfoses de uma mulher” conta a história de sua mãe, resignada diante do machismo e da invisibilidade no seio familiar e social. O que poderia ser um encadeamento de tragédias, surpreendentemente, revela uma abordagem honesta e com nuances de leveza, ao longo da qual a leitura não se torna completamente desprovida de sensações agradáveis. O incômodo está ali, mas está também a delicadeza.
Ao assisti-lo falar, percebe-se que a elegância é parte inerente à sua persona e, portanto, não poderia estar completamente ausente de seus textos.
O paradoxo de tratar de coisas feias com palavras bonitas talvez seja um caminho menos repelente para pessoas que buscam na leitura um bálsamo, mas sem que esta perca seu papel de provocar e de gerar transformações.
Imagem: Getty images
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