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Tem coisas que a gente nunca esquece

Peter Rossi

Tem coisas que realmente a gente nunca esquece. Elas ficam indelevelmente marcadas em nossa memória, sempre despertando sentimentos. Falo, nesse momento, de lembranças boas, positivas. As negativas, tenho dúvidas se merecem ser objeto de uma crônica.

Enfim, várias são as mensagens que nos chegam, brindando nossos olhos com cores diversas, matizes felizes, sons inolvidáveis. São sinfonias de brilho e som.

Essas mensagens cumprem, com leveza, o propósito para o qual foram criadas. Deixar em nossa mente uma lembrança que nos permita associar o que vimos com o prazer de ver novamente.

Sim, falo da propaganda, da boa publicidade. Nesse viés, participo da dor coletiva pela partida precoce do Washington Olivetto. O mago da comunicação que o nosso país produziu para o mundo.

Lamentando a sua ausência, fiz uma pesquisa sobre suas peças que julgo serem as mais emblemáticas. E, chego à conclusão de que ele era mesmo muito especial, com um olhar arguto para situações comezinhas, transformando-as em verdadeiras pérolas, a acalentar e agradar aos que assistem os filmes.

Por certo me vejo obrigado a mencionar a propaganda da Valisere. “O primeiro sutiã ninguém esquece”. Isso foi uma sacada de mestre. O prazer da menina se sentindo mulher. Sim, quando adolescentes temos a infeliz ideia de querer ser adulto antes da hora. A propaganda fala de inclusão, de amor-próprio, de felicidade. E isso com um lirismo até então pouco ou nunca utilizado no mercado publicitário. Não à toa é considerada uma das cem melhores peças publicitárias do mundo, em todos os tempos.

A ingenuidade da menina se transformando, com absoluta sensualidade, em uma mulher diante do espelho é simplesmente deslumbrante. Falo de uma sensualidade gentil, sem apelativos, sutil. Inesquecível, mesmo! Tanto isso é verdade que, volta e meia, mencionamos a expressão, que acabou sendo adicionada ao vocabulário brasileiro, a significar alguma coisa que não podemos nunca nos esquecer. Olivetto mexeu no dicionário …

Outra propaganda que nunca esquecemos é a do cachorrinho basset numa patinete, com um insolente capacete na cor branca, seguido por um cão enorme em outra patinete. Descendo ladeiras, por utilizar-se de amortecedores de determinada marca, consegue fazer todas as curvas, enquanto o seu oponente se perde, caindo em um lago. A associação do físico do animal com um amortecedor é coisa de gênio. Nós, expectadores, sempre torcíamos para o cãozinho, que até recebeu um sobrenome: cãozinho da Cofap!

E o que dizer do garoto da palha de aço? Ele acabou se tornando íntimo de todos nós que nos esforçávamos para atender seus pedidos e sugestões.

Sim, o propósito era vender, mas ninguém o fez com tanta poesia, com tanto lirismo quanto o cara da WBrasil.

Jorge Ben, hoje Jorge Ben Jor, já cultuava Washington em suas canções e todos cantávamos sem prestar muita atenção à letra, presos apenas ao ritmo contagiante.

É uma pena essa nossa mania de cultuar quem vai, depois que foi. Na verdade, uma insolente falta de atenção ao que nos cerca. O Olivetto foi um dos gênios que as enciclopédias eletrônicas vão reverenciar doravante. Mas nós, pobres mortais, deixamos que ele passasse ao largo de nossas vidas, embora, em algumas ocasiões intrinsecamente ligado a elas.

Uma pena a finitude dos especiais. Deviam permanecer eternamente. Será? Há os que pensam que eles lançam a semente e estimulam o esforço para um mundo melhor, mas que não devem tutoriar os próximos passos da humanidade. Ela, humanidade, é que deve se ajustar e buscar o bom exemplo.

Washington era artista, na verdadeira acepção da palavra. Aquele que se joga de corpo e alma em tarefas que talvez possam passar a ideia de simples, mas que na verdade encerram em seu âmago o sentimento de imprescindibilidade. A arte é mesmo a mãe de todos. A natureza nos dá exemplo de arte diuturnamente. O que precisamos é ajustar nossas lentes, abrir nossos corações e com a boca aberta de admiração, inspirar o ar que dela emana.

Uma salva de palmas a Washington Olivetto, o homem que fez dos modorrentos intervalos na televisão, verdadeiras obras de arte, nos fazendo esquecer que em alguns minutos o filme que até então assistíamos recomeçará!

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