Taís Civitarese

Nada é tão útil quanto um filtro, sobretudo se for para fazer café. Ele retém impurezas, o pó que resta desprovido de solutos e fragmentos daquilo que não serve. Permite que sobre na jarra somente o que é importante, os açúcares e substâncias aromáticas que se aproveitam de cada grão.

Existem pessoas que também precisam ser filtradas, não necessariamente após um banho escaldado. Muito do que produzem e dizem são impurezas, pó sem sabor.

Infelizmente, nem sempre conseguimos desviarmo-nos delas. Então, taca-lhes um filtro que não permita que suas borras cheguem até nós. Essas elementos, se porventura atravessam, contaminam tudo o que está abaixo. Causam toxicidade e aberrações.

Um paciente estava indo muito bem em seu tratamento de saúde mental. Uma pessoa da família resolveu lhe dar conselhos e implantou tanto rancor em sua mente que o bonde desandou. O paciente é jovem e ainda destituído de um filtro cascudo, impermeável a não tão boas intenções.

Tentei explicar-lhe que palavras alheias têm peso e que tudo o que podemos fazer é desenvolver uma força grande em nosso interior que as impeça de nos atingirem quando não nos servirem para o bem.

Assim, seremos nós como um café puríssimo e com menos amargor. Límpidos e cheios de potencialidades. Que coisas ferinas, pequenezas e lancetas disfarçadas de comentários fiquem bem retidas no filtro. Até nosso nariz tem um. Nem ele, mesmo sendo feito de cartilagem é bobo o suficiente para permitir que o ar o adentre sem uma mínima inspeção e retenção. Que dirá das pessoas, nem sempre transparentes, inodoras ou puras em suas intenções.

Tais Civitarese

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