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Sem preliminares

Silvia Ribeiro

Me lembro daquele gosto que era o lado bom da vida, daquele frescor de pele limpinha, daquelas frases num guardanapo amassado que eu nunca pude entregar. E daquele peito que eu sempre achei super sexy. 

Talvez seja melhor não ser prudente e perder o medo do ridículo, liberar todos os nãos sem dar atenção aos equilíbrios emocionais, e deixar o juízo passar em branco. Idealizar que ele gosta um pouquinho de mim.

Sem nenhum aviso toquei o interfone. 

Um possível olhar de espanto me aqueceu dos pés à cabeça, e deslizou na minha espinha me obrigando a ser forte. Até que um “entre”, me animou.

Eu não tinha mais como mudar aquele cenário nem sair correndo com as minhas agonias dentro da bolsa. E como se não bastasse o meu coração testava os meus limites e interferia o tempo inteiro na minha falta de jeito.

Ainda que fosse difícil me manter em cima daquele salto estava no auge do meu rompante. Esperei por algum sinal, uma palavra que me desse o necessário pra ser feliz e devolvesse a minha calma, ou um gesto que massageasse aquele tesão que estava à beira da loucura. 

Bebe alguma coisa? E pra simplificar fui logo dizendo- o que você quiser. 

Aquela ausência momentânea parecia simples, mas foram os minutos mais longos de toda a minha vida. E quando ele voltou, duas taças com um drink extremamente gelado me pareceu convidativo e foi a salvação pra minha garganta seca.

Não vai se sentar? Claro, achei que não iria me convidar.

E antes que eu me sentasse segurou o meu braço com uma gentileza desobrigada, molhou os meus instintos, e deixou a minha alma verdadeiramente nua.

Me olhou como se fosse a primeira vez e disse: sem preliminares.

Me surpreendia comigo mesma como se aquela respiração tão próxima da minha nuca me fizesse nascer de novo. Aquele cara tinha o poder de me hipnotizar.

Com um magnetismo natural passou as mãos pelas minhas costas tentando se livrar do meu vestido, e todos os meus músculos riam por dentro. A única coisa que eu ouvia era- maldito fecho. 

Aquela sensação não suportava um romantismo nem uma declaração de amor, era apenas dois corpos que pediam um sexo voraz sem carências ternas. Um mundo onde os nossos desejos podiam ser saciados sem almejar uma infinitude e sem se lembrar da saudade que viria depois.

Dentro daquele abraço fui tantos rostos…

Fui a namoradeira debruçada na janela, a adolescente insaciável, a senhorita de alma viril. E porque não dizer? – a moça do strip-tease.

Desfrutamos de todos os pecados, nos viciamos em todas as carícias, passamos a existir em todos os orgasmos.

E no outro dia pedimos desculpas para a distância. 

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