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Mendoza, até o fim

Peter Rossi

Sigo contando minhas peripécias, espero que não os enfade, mas, ao contrário, desperte curiosidade ou estimule saudades. Após a viagem à montanha coberta de neve, seguimos a perseguir as vinícolas, como se elas, algum dia, fossem sair do lugar. As videiras cobertas de preto, mas longe do luto, estavam apenas agasalhadas contra um tempo que pode castigar, afinal, devem nascer plenas e vigorosas as uvas. Aquela tênue tela é, na verdade, um abrigo marsupial.

Logo em seguida, chegamos no meio da manhã à fabricante de espumantes. Uma vinícola moderna e atrativa. Ali se fabrica a Chandon. Sei que existe uma da mesma marca no sul do nosso país, mas a que visitamos tinha um sotaque especial. E foi maravilhoso sentir no nariz o espocar de borbulhas a envolver nossa alma. Antes do almoço e degustando algumas taças, acabamos por voar e, poucas vezes na vida, nos sentimos tão plenos e felizes. Foi incrível ver minha parceira bêbada, com mínimo efeito do álcool! Ela, simplesmente, se embriagou de felicidade. Simples assim! Aquelas bolhas nos envolveram por completo e nós, totalmente atordoados e sem fala de tantos sorrisos, simplesmente nos deixamos levar! Que viagem inesquecível.

Na hora do almoço, seguimos para os tintos! Cada um mais ou menos encorpado, com pouco ou muito tanino. Não sou um expert em vinhos, devo confessar, mas me reconheço um expert em me sentir feliz ao lado deles! Mas sigo determinado a aprender. Garrafas, me esperem!

Até o fim da viagem foi assim: poucos dias, muitos vinhos, infindáveis sorrisos. A paisagem, como um quadro de Monet, criava uma realidade impressionista em nossas retinas. A montanha, com véu de noiva, deslizando flocos de neve nas estradas, como a comemorar a chegada da primavera. Que venham as uvas! Nós as esperamos tanto, brindam os produtores!

Mendoza é assim, um caso de amor à primeira vista. Melhor ainda se estivermos ao lado do nosso amor. E a cidade celebra essa união, em cada esquina, em cada rua, celebra o amor. Andar de mãos dadas em Mendoza é meio caminho para o paraíso. E, nesse quesito, minha escola tirou dez. Andei de mãos dadas com meu amor, e juntos dividimos uma felicidade plena que nos transbordou.

Quando for a Mendoza, não se esqueça: além da mala de vinhos, leve seu amor a tiracolo e jamais deixe de receber as bênçãos daquele vento frio que só nos estimula a um abraço forte. Conheci Mendoza dessa maneira. Além da expectativa e da curiosidade por sabores, paladares, goles e borbulhas, cuidei de ter ao meu lado tudo o que queria: a mulher que queria, o sonho que devia sonhar… e sonhei!

Mendoza, me espere, vou voltar! Da próxima vez, quero ver as uvas nos galhos, sem o véu negro sobre as parreiras. Mas nem venha com segundas intenções, vou, mais uma vez, de braço dado com meu amor.

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