Fui buscar do outro lado do mundo uma palavra que estava em falta em minha vida. Uma palavra que conheci muito bem quando criança, mas que havia se perdido com a chegada da maturidade. Como se o excesso dela, em pequena, me tivesse feito rebelar na direção diametralmente oposta, mais ou menos como uma revanche.
Em meu passado, sempre havia muitas regras. Muitos horários, compromissos, planos, ordem. Quando pude, relaxei. No entanto, percebi posteriormente que não se pode viver completamente livre. Aquele traçado proposto no início foi necessário para estruturar grande parte das condições que me permitem redesenhar os caminhos de hoje. Foi algo que me fortaleceu, embora nem sempre fosse confortável.
Durante um passeio pelo Japão, ao observar a organização daquela sociedade e das pessoas naquele país, refleti sobre os efeitos que a ordem pode surtir na nossa vida. Ter se mantido isolado por muitos anos sob regras e proibições rigorosas fez com que os japoneses aprimorassem profundamente sua cultura e desenvolvessem intensamente suas potencialidades artísticas, culinárias, ritualísticas e sociais. Há algo de inabalável em seus costumes e suas posturas obedecem a cortesias e palavras que se repetem em qualquer contexto, em qualquer lugar. Além disso, a funcionalidade e a previsibilidade dos eventos trazem forte sensação de segurança. Como turista, não há nada melhor. Como observadora, foi uma lição de vida.
Ali reencontrei uma ferramenta que se fazia muito necessária no quintal de minha casa: a disciplina. Inspirei-me a ter um pouco mais de firmeza e continuidade nas decisões. Dimensionei seu uso para a minha realidade e tenho tentado deixá-la diariamente fora da gaveta. Sem permitir que tudo venha tanto do instinto, do estômago e do ímpeto, os quais, muitas vezes, sabotam os planos mais bem sonhados.
Já tenho notado resultados dessa mudança no dia a dia da minha família. Parafusos apertados, engrenagens rodando melhor, reparos feitos. Seguiremos assim, na tentativa de resistir com mais sabedoria aos terremotos e tsunamis que ocasionalmente virão a sacudir-nos.
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