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Era uma vez… uma turista

Sandra Belchiolina

Era uma vez uma turista que chamarei de Bel. Assim, parte de seu nome; assim, parte da história; assim, parte da viagem…

Partes, pois o todo não é possível ser abarcado.

Bel saiu do Brasil com destino à Itália, onde participaria de um congresso. Seria sua primeira viagem à Europa. A bagagem era leve e com pouca roupa, carregando também um passe de trem daqueles que permitia rodar pela Europa Ocidental sem pagar mais nada. Nessa época, ofertados com bom custo-benefício. Também havia um bilhete aéreo com retorno desde Paris.

As únicas certezas dessa viagem: entraria por Roma e sairia por Paris. E assim foi, mas antes passou por Veneza, Milão, Verona, Assis, Barcelona e Madri. E é aí que a história começa.

Partiu de Barcelona, precisamente da Estação Ferroviária Sants, às 09h. Chegou à Puerta de Atocha às 11h45. Teria a tarde e noite em Madri nesse dia. Como viajava sozinha, não se preocupava com o tempo, pois ele era somente dela. Assim, acomodou-se na casa da amiga madrilena e começou a descoberta da cidade. Sozinha, pois a amiga e hospedeira estava no Brasil visitando parentes.

O destino da noite foi a Plaza Mayor. Praça que tem sua origem no século XV e fica situada na confluência dos caminhos de Toledo e Atocha. É retangular e rodeada de edifícios de três andares, com nove pórticos de entrada. Ali, Bel escolheu um bom café onde pudesse apreciar a movimentação da praça e as deliciosas tapas – comidinhas espanholas. Também organizou o dia seguinte e estava nos seus planos visitar o Museo Nacional del Prado.

Assim foi: dia dedicado ao Prado, Parque de El Retiro e onde mais as pernas a levassem. E boas surpresas aconteceram. Pela manhã, a caminhada no Parque Del Retiro. No século XVII a região era dedicada à residência de campo do Rei Felipe IV. O Palácio del Buen Retiro, como era chamado, possuía belos jardins. Esses eram frequentados, em sua origem, somente pela Família Real. Bel percorreu suas alamedas a contemplar inúmeras estátuas, árvores dançantes, esquilos; descansou sem pressa às margens do lago.

O próximo destino estava pertinho: o Museo Nacional del Prado. Um dos primeiros museus públicos da Europa com função educacional e recreativa. Tem grande valor mundial pelo seu diverso acervo de pinturas de artistas espanhóis, franceses, flamengos, alemães e italianos.

Os Países Baixos foram integrados ao grande império espanhol, assim o Prado é rico na coleção de pinturas flamengas. Entre elas, estão Rubens e Rembrandt. Bel sabia de sua riqueza, pois havia aprendido e visto muitos slides das pinturas em suas aulas de História da Arte. Ela também admirou os espanhóis: El Greco e Velázquez; e os italianos: Botticelli e Caravaggio.

Mas uma obra chamou-lhe mais a atenção, pois não a conhecia – “Apolo Perseguindo Dafne”. Conta-se no mito que Apolo, deus belo e poderoso, provocou o pequeno Cupido – deus do amor, dizendo-lhe que suas flechas eram menos poderosas. Cupido, por sua vez, disse-lhe que as suas flechas poderiam matar menos, mas eram mais perigosas. Assim, flechou Apolo com a flecha de ouro (amor) e Dafne com a de chumbo (repulsa do amor). Vale a pena conhecer a história e a pintura.

O mito mostra, entre outras coisas, a impossibilidade da apreensão do objeto amado como um todo. No final da história mítica, Apolo fica com fragmentos (partes) de Dafne, isso depois dela se transformar num loureiro.

Bel continuou sua caminhada e deixou que seus pés a levassem sem rumo determinado. Passou pelo Palácio Real, e o admirou, pois esses espaços reais são sempre bonitos. Já quase no pôr do sol, chegou a um lugar inesperado. Naquela época, não tinha celular para consultas e nem estava preocupada com a história daquele lugar. Ali, no aqui e agora, o que importava era sentir a emoção do momento. Maravilhada, ficou desfrutando o adeus do Sol do dia.

 

E seus pés a haviam levado para o Templo de Debod. Um monumento egípcio do século IV a.C. Nele há uma capela dedicada aos deuses Amom e Ísis. É um dos poucos monumentos fora do Egito. Foi doado em 1968 para a Espanha pelo Estado Egípcio, em agradecimento pela ajuda prestada em salvar outros templos. Em Madri, foi montado pedra sobre pedra conforme orientações originais, de leste para oeste. O Rio Nilo está presente na sua representação pelo espelho d’água.

Para saber mais:

www.mitografias.com.br/2016/02/apolo-e-dafne/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Coroa_de_louros

https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Debode

Sandra Belchiolina

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