(texto editado em 02/04/24; texto original publicado em 04/01/23)
Quanto mais vivo, mais me convenço de que o verdadeiro valor da vida reside na liberdade — na possibilidade de renunciar às prescrições dos cronogramas e aos tempos dos relógios e dos calendários. Há muito tempo deixei para trás os planejamentos e as planilhas anuais. Na cadência da rotina, muitas vezes imposta, prefiro seguir o tempo do sol e do meu próprio desejo.
Há momentos em que não queremos fazer esforço, nem previsões. E, às vésperas de um novo aniversário, estou em balanço. Minha única certeza é que, nesse novo ano, quero deixar espaço aberto para o ócio, lacunas para o imprevisto, brechas para o improviso.
Quero poder andar distraída, olhando para o céu ou para o chão. Quero ver gente que a gente não vê — pessoas invisíveis, presenças que não podem ser desperdiçadas.
Quero ter tempo para escutar e narrar o mundo com minhas próprias palavras, seja falando ou escrevendo. Palavras que sempre me salvam, me consolam e me organizam.
Quero sustentar a satisfação de me manter em movimento e responder com dignidade às convocações para insistir na vida, para persistir no que ainda não conheço. Quero saber valorizar os afetos para nunca perder o amor pela vida.
Quero não me importar com as coisas perdidas e saber renunciar às coisas esquecidas. Quero a natureza, o café, a música e os livros.
Cada vez mais me convenço de que as grandes conquistas se fazem mesmo no pequeno, no dia a dia. As batalhas que realmente importam são travadas na intimidade do coração. As grandes satisfações acontecem sobre a comida fresca preparada na domesticidade do lar, nos breves encontros que ressoam de maneira determinante em nós.
É sobre coisas efêmeras que se impregnam na gente. Sobre o jantar improvisado com os restos da geladeira, preparado com calma e amor. Sobre o gesto singelo de apanhar um copo d’água. Sobre a leitura de palavras honestas que atravessam o nosso ser e catalisam mudanças.
Pode ser que esteja envelhecendo, mas já sei há um bom tempo que estou cada dia mais perto da morte. Sei que ela me visita todo dia a cada pôr do sol e que preciso das brechas para não ver os dias se dissiparem.
Sei também que a gente não tem nada. Temos apenas um coração disponível para o amor. Para o amor e para este instante.
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Obrigado pelo lindo texto! Que bela reflexão que suas palavras escritas me causaram. Realmente, na vida há tempo de tudo, também de plantar e de colher. Quanto mais idade a gente acumula, mais sábio ficamos, isso chama-se experiência. Hoje eu curto minha família, aproveito minha esposa, meus pequenos filhos Lis (4) e Davi (3). São meu combustível diário e assim caminho nesta Terra com minhas completas 40 revoluções em torno ao Sol. Gosto do cheiro de terra molhada, do orvalho das manhãs, do cheiro do café. Quão singelo é a vida quando paramos de pedir e começamos a agradecer, a ter gratidão. Abraços e axé.