Cláudio, que nem na infância tinha sido bonito, estava perdendo a batalha contra a calvície. Seus poucos cabelos restantes eram brancos e ralos. Sequer possuía fios suficientes para ensaiar qualquer penteado. Com entradas avançadas, ele apenas penteava os heróis da resistência para trás, que ficavam levemente arrepiados, tal como Cebolinha, da turma da Mônica.
A solução caseira para tingi-los não resolveu o drama. Mais barato que o Wellaton, o Óleo Atalaia deixava seus cabelos untados e com uma cor turva feito água de enxurrada. Traumatizado com o Finasterida que o deixou demi-bombé por semanas, virando um bonecão de posto de gasolina logo no início de seu antigo namoro.
Nessa terra arrasada, Cláudio desabafou: “Eu já tô velho, cara. Não tenho pique nem tô a afim de sair por aí a noite atrás de mulher. Eu não sei dançar e não gosto de boate. Acho que minha irmã está certa, eu não caso mais não…”
Ao ouvir, tive uma imensa vontade de rir, mas me contive. E, me contendo, meus olhos lacrimejarem pela gargalhada não dada, o riso guardado me faz ainda hoje achar graça dessa lembrança. O melhor humor é sempre o involuntário.
Na verdade, achava que ele estava certo. Não imaginava qualquer mulher que suportasse o combo Cláudio Augusto: sovina, egoísta, calvo, feio e pobre de direita. Acreditava que dali pra frente ele seguiria definitivamente em carreira solo, repetindo suas mesmas roupas de sempre em raras aparições sociais, tal como o Roberto Carlos e seu eterno blazer azul, cantando Emoções no Especial de Natal da Globo.
Eu o conhecia há tempo suficiente para não me permitir acreditar em qualquer mudança. Passei décadas ouvindo suas mesmas piadas de Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufungo.
Mas, por essa amizade, me senti na obrigação de mentir algumas palavras de apoio e esperança: “Calma, Cláudio. De repente foi uma boa pra você esse término. BH tem duas mulheres e uma farmácia Araújo em cada esquina, quem sabe mais adiante você não encontra uma pessoa bacana? Evite baladas de adolescente e cria um perfil no Tinder”.
Naquele dia, sem saber, ajudei a criar um monstro…
(a história segue na próxima semana)
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