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Manjar dos Deuses

Silvia Ribeiro

Cadê você?

Quebra esse silêncio e coloque doçuras nas minhas loucuras, me olha com aquele jeito que eu gosto, e me ensina a soltar a prosa presa na garganta e os fartos arrepios que mimam o meu coração.

Chega assim de repente, e arranca de dentro de mim aquela menina moleca que abandonou todas as adultices da vida pra se tornar capaz de ser a anfitriã da sua pele. E antecipe aquele par de asas que me leva pro seu abraço com a mesma suavidade de conceber uma poesia ou cantarolar uma canção.

Me tenha como se eu fosse a última e a primeira, ou apenas alguém capaz de perdoar a acidez da distância que todos os dias se torna um ser que precisa de colo.

Sinta as minhas agonias e o meu desejo úmido imaginando como será sobreviver dentro do seu gozo, e me traga o entusiasmo de ser merecedora das fantasias que eu criei pra mim.

Se habite nessa imagem avassaladora dos meus seios debruçados nas suas costas e repare a minha lingerie completamente solitária. Não me pergunte sobre a beleza que transforma o nosso encontro no meu dia preferido, tampouco tente me fazer perdurar sem as minhas intensidades.

Preciso que você se enrosque nas minhas pernas, que morda o meu queixo e me faça rolar de rir, que aprenda tudo sobre as minhas carícias favoritas, e que prolongue a alegria absurda que eu sinto quando atualizo a saudade e deixo na sua nuca os rastros da minha língua.

Venha com a sua vontade corajosa e o seu prazer irreverente me convidando para um banho demorado, e direcione cada gota de água que percorre a minha silhueta pra que elas ouçam o que a minha mente precisa.

Me faça lembrar daquele dia em que você parou em frente a cama depois da gente fazer amor…

Lentamente você ia me contando sobre coisas triviais como se quisesse segurar nas suas mãos aquele momento, e olhava o meu corpo ainda nu com um brilho divertido nos olhos.

E como numa tela de cinema a minha respiração ainda falava de nós dois, e o meu suor erotizava todo aquele tesão que não queria descansar. Logo sensações diferentes visitavam a minha alma como uma explosão de cores vivas.

Era gostoso experienciar todas aquelas vozes falando besteiras, quebrando protocolos, fugindo da minha intimidade e me permitindo coisas que eu nunca havia dito.

Sem ter todas as respostas e de forma amadora eu soube que somente você era capaz de me convencer a começar tudo de novo, e começamos.

Gradativamente espalhei todos os meus “eu te amo” pelo quarto e agradeci a vida por aquele presente.

Me senti um manjar dos Deuses.

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