E eis que aos 40 anos, novamente, Cláudio Augusto ficou solteiro. E dessa vez, ao invés de uma palavra de conforto, ouviu uma dura sentença de sua irmã mais velha: “Desisto. Você não se casa mais… ou, se casar e tiver filho será pai-avô”.
As cobranças familiares sobre Cláudio vinham se acentuando com o passar dos anos. Filho caçula de mãe viúva, com suas três irmãs já casadas, só faltava ele, o homem da casa, se casar e seguir o protocolo de sua tradicional família católica e conservadora.
Ocorre que Cláudio tinha dois pequenos defeitos fulminantes, responsáveis pelo término de seus três últimos relacionamentos: ele era extremamente pão duro e individualista.
Somos amigos desde o início dos anos 90 e afirmo que nunca o vi dizer que iria ao cinema, Mineirão ou a qualquer show musical. Até nos eventos gratuitos, Claudio ia a contragosto, contabilizando mentalmente possíveis gastos com bebida e comida.
Seu individualismo vinha de berço. O xodó da família foi dispensado de qualquer tarefa doméstica. Cláudio jamais foi ao supermercado, padaria ou sacolão. Com esta criação jurássica, ainda hoje ele não sabe cozinhar, passar, limpar casa e muito menos lavar suas roupas.
Quando Cláudio convidou sua agora ex-namorada para jantar e conhecer sua família, ela ficou chocada ao ver que foi sogra quem cozinhou e ainda e serviu o seu prato. Questionado, disse que ela gostava de servir a janta, e, de mais a mais, sua mãe sabia exatamente o quanto ele gostava de comer.
De bônus às futuras pretendentes, o novo solteiro também era desinformado, alheio ao mundo e desinteressado de tudo. Era até difícil pra ele ter uma opinião equivocada, posto que não tinha opinião nenhuma.
Numa das poucas vezes em que se posicionou foi sobre as eleições de 2018. Já ali, visionário, ele desconfiava das capacidades do Debatedor do SuperPop governar o Brasil. Mesmo sem entender direito, Claudio não levava fé na democracia vigente e ansiava por um Golpe Militar “pra acabar com as politicagens”.
Em suas quatro décadas de vida, Claudio nunca precisou negociar com ninguém nem dividir ou abrir mão de nada. Pão-pão queijo-queijo, não cedia aos os caprichos de suas namoradas, que, mimadas, insistiam em passear, viajar, comemorar datas festivas, jantar fora, ganhar ovo de páscoa que não fosse em barra e tudo o mais que fosse fútil e dispendioso.
Cláudio odiava perder tempo e dinheiro com essas coisas. Se dizia um cara simples, que gostava de ir à igreja e festas de família que, coincidentemente, eram de graça. E, se fosse pra gastar dinheiro, que fosse em seu programa topzera, pizza-e-motel.
Aos quarenta, Claudio entendeu que as coisas estavam diferentes e que tempo virou seu adversário.
Se antes se via como um bom partido, pretendente valorizado e um legítimo solteiro original (aquele que nunca se casou nem teve filhos), agora ele já se sentia encalhado. O peso da idade dificultava novas conquistas, diminuía o leque de contatinhos freelance e possibilidades afetivas.
(continua na próxima semana)
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