Fiquei aqui pensando se não seria remoer mais do mesmo ao falar sobre Sílvio Santos e a sua morte. Os meios de comunicação, exaustivamente, abordam o tema e não poderia mesmo ser de outra maneira. Ele foi efetivamente uma pessoa de suma importância para o país. E não falo isso sob o prisma de ter sido um empresário bem-sucedido. Outros tantos também o são. Mas Sílvio era diferente, é diferente!
Mas ao invés de requentar a sopa que todos já provaram, me permito falar da importância dele para mim.
De fato, tenho em minha mente tardes muito agradáveis em frente da TV, com imagens ainda em preto e branco, que nada mais eram do que uma paleta com nuances de cinza. Eram frenéticos aqueles domingos. O homem, com o microfone dependurado no pescoço, a pular de um lado pro outro, apresentando artistas e outras diversas atrações.
Ficávamos emocionados quando a “Porta da Esperança” se abria e um menino pobre e desamparado tinha seus sonhos realizados. Tentávamos adivinhar com poucas notas a música que o maestro Zezinho tocava ao piano. Nos deliciávamos com a voz grave do Lombardi, nos anúncios comerciais: todos queríamos ter um tênis “Montreal”.
Eram muitas as gargalhadas quando o pobre coitado do surdo de momento trocava uma bicicleta por um apito de plástico.
Enfim, eram muitas as lembranças que seguramente preencheram momentos importantes da nossa vida. É a isso que me refiro nesse momento: a ausência.
Se, por um lado, já estava Sílvio Santos afastado da televisão, por outro, estava presente, ainda que como coadjuvante em nossas vidas. Não pensávamos em nunca mais vê-lo, afinal ele estava entre nós.
Agora, a morte põe um ponto final. Não digo nas esperanças e nos saudosos momentos, daquelas “jovens tardes de domingo”. Ela calcifica a possibilidade de que, num momento qualquer, num domingo qualquer, ele aparecesse na telinha, ainda que com dificuldades de locomoção, com um aparelho auditivo, óculos de lentes grossas e sem o microfone dependurado no pescoço. Mas ele poderia estar lá. Ele, o portador de nossas boas lembranças, o despertar de momentos de nossa juventude que jamais passarão.
Me sinto só, nesse aspecto. Gostaria de ainda tê-lo comigo, embora nunca o tivesse visto pessoalmente. Mas era um grande amigo, com quem conversava diante da televisão. Respondia às suas perguntas, ria de suas piadas, cantávamos juntos.
Mas essa é a forma natural que vida inventou de resolver as coisas: a ruptura, a separação. Mas, ainda assim, nos permite manter o que não mais existe dentro de nós. Talvez seja essa mesmo a receita do bolo. Ainda que vida seja fugaz, ela não termina em si mesma, ao contrário, sobrevive em nossos sonhos e em nossas lembranças.
Obrigado Sílvio Santos, você é coisa minha. Falo de nossa convivência não com absoluta tristeza, mas confesso que ainda estou pesaroso. Vai passar, eu sei, e a tecnologia cuidará de manter sua imagem. Eu, ainda que não precise, pois tenho você vivo em minha memória, vou me deliciar, afinal domingos, àquela época, não existiam sem a sua presença.
Fica a saudade, fica a lembrança, fica o inafastável sorriso de quem era absolutamente feliz com o que fazia, a ponto de contagiar milhões de pessoas num país continental, unidas por frágeis ondas eletromagnéticas.
Você nos fez todos iguais!
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