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Quer brincar comigo?

Mário Sérgio

A maioria dos medalhistas olímpicos, recordistas ou mesmo os mais bem colocados apresentam um fator comum. A quase totalidade deles tomou contato com o esporte na infância, no início de sua interação com o ambiente e as pessoas, eclodindo assim eventuais talentos. E ainda que no futuro, em relação ao desporto, estivessem colocados na plateia e não nos palcos esportivos, a qualidade de vida, para quem teve a oportunidade de interagir com outras crianças nas brincadeiras, tende a ser muito melhor.

Por outro lado, frequentemente as crianças com deficiências, mormente motoras, ficam à margem das brincadeiras, ou por excesso de proteção ou por negligência dos responsáveis.

Cuidar de uma pessoa, especialmente criança, com deficiência, exige um esforço muito grande e, claro, renúncia a muitas outras atividades laborais ou recreativas. Todo esse desprendimento exige dispêndio financeiro e uma porção imensa de amor envolvido.

É possível, e recomendável, desenvolver atividades, brincadeiras e interações com aqueles que apresentam alguma deficiência. Isso permite desenvolvimento o mais saudável possível, dentro das limitações físicas e/ou intelectuais que se apresentem. Imaginem o atraso científico nas teorias disponibilizada pelo tetraplégico Stephen Hawking, como a da cosmologia envolvendo teoria geral da relatividade e da mecânica quântica. Quanto a música seria mais pobre sem estrelas como Ray Charles, Andrea Bocelli, Steve Wonder, Kátia, Nelson Ned e outros.

Para muito além disso, promover adaptações e adequações aos espaços físicos, públicos e privados, bem como aos produtos de uso pessoal como talheres acessíveis, roupas e calçados inteligentes, mobiliário funcional, equipamentos que atendam às pessoas com restrições de toda ordem.

Quando uma grande montadora de veículos se instalou próximo a Belo Horizonte/MG, um dos seus principais dirigentes, em entrevista inaugural, tratou da questão dos veículos especiais que produziriam para atender às pessoas com deficiência. Em sua fala, marcou bastante o segmento PcD quando disse que “a deficiência mais notável é a dos próprios veículos que não atendem a todos de maneira democrática”. Ainda que tenha sido uma jogada de marketing, com o intuito de demonstrar uma visão humana sobre uma questão que envolve tanto o coração quanto o intelecto, foi importante demais para ser relegada ao esquecimento.

Já tratamos, em artigo recente, da diferença entre as Olimpíadas e as Paraolimpíadas, com números. Sem qualquer demérito aos magníficos atletas olímpicos brasileiros e apenas a título de comparação, os paratletas trouxeram 373 medalhas contra 170 olímpicas. O Brasil participa das olimpíadas desde 1920, 104 anos; das paraolimpíadas, a metade, desde 1972, 52 anos. Os patrocínios de um representam apenas 25% dos outros; o tempo de tv de um é apenas 10% do tempo de outro. Os números são impessoais, portanto, não mentem. E os jogos de 2024, começam dia 28/08. Serão ainda mais medalhas.

Há uma esperança, no entanto. As Havaianas, famosa marca de sandálias vem patrocinando atletas paraolímpicos desde 2020. Notícia da Folha de Londrina, da quinta-feira, 15/08/2024, destaca: “Havaianas lança chinelo inclusivo para Pessoas com Deficiência”. Foi muito gratificante ver esse título estampado. Afinal, quem sabe (?), estejamos sendo reconhecidos.  

Blogueiro

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  • Excelente lembrança. Infelizmente, a grande mídia ainda não compreendeu o extraordinário significado das para-olimpíadas .

  • Sao dados importantes, pertinentes.
    Incrível como suas palavras trazem uma reflexão de quanto estamos atrasados em relação aos PcD's.
    Quando você cita mudanças e algum reconhecimento, que com certeza são importantes e merecem crédito, ainda é muito pouco. Vamos acreditar que é a largada para uma grande conquista!
    Parabéns Mário Sérgio, você é uma inspiração!

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