Tadeu Duarte
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Sábado depois do almoço toca o telefone de Wagner.
Para sua surpresa, era Érika, sua amiga e caloura do curso de História na UFMG, que nunca havia lhe telefonado.
Érika tem um perfil um pouco diferente das outras alunas desse curso, não bebe e é evangélica praticante.
Semanas atrás, eles ficaram em uma festa no prédio da faculdade de filosofia e ciências humanas, a FAFICH. Naquela noite, Wagner, sempre bêbado, resolveu tentar a sorte com a caloura evangélica e, para sua surpresa, deu bom: conversa vai conversa vem e Wagner gengivou a Sandy Gospel.
Naquela noite ele não soube bem como agir com ela, que, bastante tímida, não lhe deu muita abertura pra tentar qualquer coisa diferente de uns beijinhos bem de leve. Depois disso, seguiram amigos, conversando no intervalo das aulas e pelas redes sociais.
Ao telefone, Érika foi direto ao ponto e lhe fez um convite inusitado: propôs se encontrar com Wagner em um barzinho da Savassi onde ela já estava. Disse que gostaria que, de lá, ele fosse “em um lugar com ela”.
De antemão, Érika pediu que Wagner não a julgasse.
Ele prontamente concordou e desligou o telefone já entrando no banho. Com a imaginação a milhão, fez o que qualquer homem faria: tomou um belo dum banho rápido, raspou o saco com Mach 3 e colocou sua melhor cueca. Na verdade, sua cueca menos poída. Como todos sabem, estudante de história jamais compra roupa.
É a cultura do curso se opor ao capitalismo com vestimentas de um sindicalista subversivo e tabagista dos anos 70. Ali a moda é usar roupa velha, feia e antiquada.
Enquanto chegava na Savassi, Wagner se convencia que Érika lhe chamaria para o motel. Não tinha dúvidas, ainda que no convite ela não tenha especificado o lugar que gostaria de ir com ele.
Wagner pensou que o ambiente descolado e transgressor da UFMG já tivesse, glória a Karl Marx, desvirtuado mais uma ovelha do reino dos céus de Macedo, Malafaia ou Valadão. Felizmente para Wagner, uma das mais gostosas.
Com o Tadalafila tomado preventivamente e 3 Jontex Sensitive no bolso, Wagner transpirava ansiedade, afinal, não apenas estava prestes a transar, mas transar com Érika, a bela crente, recatada e do lar.
Sua amiga certamente estava necessitada, lasciva e ensandecida após tantos anos de renúncia, censura religiosa e pregação moralista.
Wagner se convenceu de que tinha um importante trabalho humanitário a realizar, um misto de solidariedade e prazer.
Chegando no bar ele logo a avistou. Ela estava linda e perfumada, com um vestido florido, levemente decotado, curto e solto. Parecia feliz, ainda que um tanto constrangida e ansiosa.
Assim que ele se sentou e antes mesmo de pedir um chopp, ela lhe informou o motivo do convite: queria que ele a acompanhasse até uma sex-shop, ali pertinho. Ela estava sem graça de ir sozinha e por isso o chamou.
O chopp gelado desceu queimando a garganta, e acabou em duas goladas. Perplexo e sem reação, só lhe restou concordar fingindo normalidade.
Chegando lá, ela lhe deu a mão fingindo ser um casal. Simulando curiosidade, Érika olhou alguns produtos como quem não quer nada mas logo seus olhinhos de trena se detiveram nos vibradores.
E deles não saíram.
E eram tantos consolos de cores e tamanhos diferentes de dar inveja ao francês Anthony Ammirati, o pirocudo olímpico que derrubou a vara com sua vara no salto com vara.
Enquanto ela escolhia o calibre da arma, Wagner, ainda otimista, imaginou que talvez ela incluiria o borrachudo para um programa a três. E torceu para que ela não escolhesse uma estrovenga tão grande que o reduzisse ao papel de coadjuvante de pornochanchada.
Rapidamente ela escolheu um pet 2 litros para saciar sua sede, que o fez desistir do programa a três antes mesmo de ser convidado. Não seria humilhado por uma Coca-Cola, capitalista e sem gás.
Ao saber do preço ela disse ao atendente que não tinha o dinheiro necessário, e Wagner, como bom esquerdomacho, se dispôs prontamente a completar o valor, mesmo sem saber quanto ela tinha trazido. E, quando soube, Wagner entendeu que foi ele o primeiro a ser fodido por aquela Pika das Galáxias.
Ela saiu da loja radiante com seu brinquedo novo, e se despediu apressadamente com a desculpa de que não podia demorar mais fora de casa.
Wagner voltou pra casa com os olhos vermelhos, efeito do Tadalafila e choro retido.
Foi-se todo o pouco dinheiro que tinha pra gastar naquele mês. Dura lex sed lex, no bolso só Jontex.
Após ser preterido por um consolo, estava inconsolável.
Como prometido, Wagner jamais julgou Érika, aquela filha da puta.