“… afinal de contas o sonho de todo homem que treina aqui na academia é ter o peitoral do Arnold Schwarzenegger e virar um atleta esportivo de fisiculturismo”
Fui apedrejado por essa frase, dita com voz blasé anasalada e ares de grande sabedoria pelo instrutor da academia, enquanto batia papo pro tempo passar mais rápido.
Sabia que tinha ouvido uma obra prima da absurdeza, mas, de cara quente e aparvalhado, só consegui rir por fora chorando por dentro.
Cansado e suado, estava doido pra acabar minha ficha e ir pra casa, onde Vovó Geni sempre me espera com meu Ovomaltine pronto para assistirmos juntos o Fofocalizando do SBT.
Frequento a academia para fortalecer minha coluna e, se possível, emagrecer. Frustrado, descubro que ali sofro pelos motivos e sonhos errados, diariamente.
Sem saber, perseguia o ideal de beleza daquele chuchu de cabeça pra baixo. Sai meus salientes peitinhos e entra o peitoral Chester Sadia do Exterminador do Futuro.
Inconformado pelo uso do Schwarzenegger como referência, psicografei meu Ariano Suassuna interior. Não é possível que até na hora de idolatrar idiotas nossa vira-latice nos faça eleger um estrangeiro. Ora essa, tem que ser muito mama-gringo para não conseguir sequer encontrar um maromba BR como ídolo!
Cadê aquele meu brasil brasileiro, reconhecido por sua larga produção de soja, café, gado, pobre de direita e gente bosta? Certamente produzimos em solo nacional algum ator idiota, musculoso e sem talento pra idolatrar. Mas quem?
Ainda grogue e zunindo pela paulada auditiva recebida, fiquei refletindo sobre a segunda questão daquela infeliz frase: como assim fisiculturismo é esporte? Eu sempre acreditei que fosse um concurso de beleza. Uma beleza discutível, claro, mas jamais um esporte.
Qualquer esporte individual requer números, pontos, velocidade, tempo e precisão, enquanto no fisiculturismo é só vaidade, veias, bombas e músculos.
Minha rotina diária naquela sauna fedida a cecê com Rexona e bunda suada não é mais considerada tortura, e sim um esporte.
A mesma autoestima masculina que permite ao Fiuk se apresentar como cantor e ator, agora fez com que aquela malta suvaquenta de bombadões periféricos se sintam como verdadeiros atletas de elite.
Olho em volta e vejo a gritante autoestima dos canelas finas. Automaticamente, o Maçaranduba que ficou forte se sente lindo. Ainda que seja mais feio que a rodoviária de Belo Horizonte. Incapaz de perceber que os bíceps e tríceps em nada alteraram sua latinha facial, sofrida e amassada, de açougueiro de bairro pobre.
O Schwarzenegger de periferia sonha em colocar aquela sunguinha frouxa e untar-se com o óleo de fritar pastéis da Galeria do Ouvidor (cujo segredo do sabor único é usar o mesmo óleo desde 1985) e competir com seus parças naquela brotheragem hétero regada a testosterona, trembolona, durateston, hemogenin e dianabol.
Colostomito, ídolo dos rinocerontes tatuados, ingeriu tanta Cloroquina e pão com leite condensado que nem seu histórico de atleta impediu a expansão de sua protuberante barriga de cadela prenha & cocô preso. Burro porém esperto, não se descuidou de seus eleitores mais ignaros. Desesperado pra não perder as eleições presidenciais de 2022, retirou os impostos de itens da nutrição esportiva como whey protein, creatina, alfafa, feno e capim.
Ainda assim, na hora H da eleição, o hoje inelegível se igualou a Ramon Dino (vice eterno, uma espécie de Rubinho Barrichello do bodybuilding), e perdeu para Lula, o CBum, imbatível campeão do Mr. Olympia no voto popular.
A diferença é que Ramon Dino aceitou de boas a derrota para Chris Bumstead, o CBum, enquanto o Imbrochável brochou e ainda assim quis empurrar mole, incentivando os patriotários amarelinhos a fazer aquela micareta golpista na porta dos quartéis.
Acredito que se o feminismo tivesse realmente todo o poder e influência social que tanto reclamam os tiozões reaças, concursos de beleza como Miss Brasil e Miss Universo também ganhariam o status de esporte.
Daí, reconheceríamos as grandes atletas brasileiras, como Gracyanne Barbosa, nossa Schwarzenegger de legging, ou a saudosa Martha Rocha, Miss Brasil famosa por ficar injustamente em segundo lugar no Miss Universo por possuir duas polegadas a mais no quadril.
Aplaudiríamos a Ana Hickmann, eleita pela revista GQ da Itália uma das dez mulheres mais bonitas do mundo, tendo também dois recordes registrados no Guinnes Book: suas pernas de um metro e vinte e a escolha do pior (hoje ex) marido do mundo.
Glorificaríamos a icônica ex-modelo, ex-participante da Fazenda da Record, ex-garota de programa, ex-evangélica, ex-Vice Miss Bumbum e atual atriz pornô, Andressa Urach. E também torceríamos para a esportista da nova geração, a influenciadora Fernanda Campos, musa do Onlyfans, também conhecida como ex-peguete do Neymar e vencedora do concurso Vagina Mais Bonita do Brasil.
Mas, voltando ao universo masculino, alguém aí pode me ajudar a eleger quem seria o Schwarzenegger brasileiro?
Aguardo sugestões.
Hasta la vista, baby!
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Retrato fiel desse tempo nebuloso, no qual só a casca importa.