Ainda na lua das flores

Taís Civitarese

Alerta: esse texto contém spoilers sobre o filme “Assassinos da lua das flores”.

Quase soquei a tela do televisor assistindo a “Assassinos da lua das flores”. A raiva que esse filme me fez passar não está escrita. Não é possível que Molly não tenha percebido o caráter duvidoso de Ernest. Não é possível que não tenha sequer desconfiado daquele homem branco, costumeiramente o algoz de todos.

O premiado filme de Scorcese é baseado em histórias reais e conta a saga dos Osage, indígenas norte-americanos que detinham grande riqueza no início do século XX. Através deles ocorreu a descoberta de petróleo no estado do Oklahoma, o que permitiu-lhes abarcar a maior renda per capita da época nos Estados Unidos.

Entretanto, após certo tempo de prosperidade, eles começam a ser mortos. Um a um, eram misteriosamente dizimados. E instaurou–se um clima de insegurança e mistério em sua comunidade.

Naquele contexto, era costume os homens brancos casarem-se com mulheres Osage para entrarem na divisão da herança. Foi assim que Molly, uma Osage, casou-se com Ernest, sobrinho de um dos coronéis “cara pálida” da cidade. Ao constatar que sua família estava sendo dizimada através de inúmeros eventos violentos e mal explicados, Molly se deprime. Porém, cega de amor, jamais desconfia do marido, o qual é cúmplice daqueles atos criminosos.

É aí que não entendo como uma mulher tão sensível e perceptiva, tão conectada com a natureza pode ter deixado passar esta óbvia ligação. Sua confiança cega quase custou-lhe a vida, uma vez que, lentamente, vinha também sendo envenenada pelo cônjuge, que fingia administrar-lhe uma medicação injetável todos os dias.

O filme deixou-me indignada ao longo de seus dois terços iniciais. Ele escancara a vulnerabilidade de um povo crédulo diante de quem tem planos ardilosos. Historicamente, o autor desses planos em diferentes contextos e épocas tem sempre o mesmo fenótipo. E assim permanece até os dias atuais.

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