A primeira eleição presidencial pós ditadura militar em 1989 foi uma verdadeira Corrida Maluca de 22 candidatos, cada um mais Dick Vigarista que o outro.
Alguns bastante inusitados, como Silvio Santos e Fernando Gabeira, e outros ridiculamente improváveis, dentre os quais, Meu Nome é Enéas! e Marronzinho.
José Alcides Marronzinho de Oliveira, o Marronzinho, que se autodenominava um “analfabeto inteligente”, ficou em 13º lugar nas eleições presidenciais de 1989, com 238.425 votos, correspondente 0,33% na preferência dos eleitores.
Marronzinho se apresentava como um homem casado, pai de seis filhos, católico, de centro-direita, com segundo grau completo, proprietário de jornal e com rendimento mensal de 300 mil cruzados.
Como infelizmente somos um país sem memória, farsas políticas do passado se repetem como tragédia no presente e futuro.
Marronzinho foi um político absolutamente canalha, de tal forma mentiroso que, se concorresse nos dias de hoje, seria um forte candidato de direita com reais chances de ser eleito.
Infelizmente para Marronzinho, nasceu em uma época errada. Sem internet, WhatsApp e redes sociais, só restava a ele imprimir fake news em seu jornal A Voz na tentativa de assassinar a reputação dos seus opositores políticos.
Marronzinho já respondeu mais de trinta processos por calúnia e difamação, chegando inclusive a ser preso. Jornalista sem formação acadêmica, apoiou Jânio Quadros à prefeitura de São Paulo em 1985, quando este venceu Fernando Henrique Cardoso, então candidato do PMDB à época.
Posteriormente, Marronzinho foi impedido de se candidatar a deputado federal devido as suas condenações, mas se defendia dizendo-se “perseguido por corruptos, ateus e maconheiros”, que queriam “impedir que um candidato de raízes populares, um real representante do povo, erga sua voz no Congresso Nacional, contra as arbitrariedades e as injustiças deste país.”
Marronzinho fez de FHC seu inimigo figadal e o esculachava em seu jornal A Voz. Dizia que FHC era protegido por jornalistas e havia comprado os jornais por quinhentos milhões de dólares, intencionados em “cubanizar” o Brasil.
Aos quatro ventos, Marronzinho afirmava que FHC era comunista, maconheiro e homossexual, e viva rodeado de viciados, lésbicas e gays, dentre os quais, seus apoiadores da MPB: “É do conhecimento de todos que Chico Buarque, além de comunista, é maconheiro. Caetano Veloso e Gilberto Gil tendem para o lado gay, além de serem maconheiros”.
Para Marronzinho, FHC nem brasileiro era, pois havia nascido em Paris.
Em seus jornais manchetava que “PMDB dá AIDS, combata-o” e “Marronzinho confirma: FHC é maconheiro”. Também atribuiu falsamente a FHC a seguinte frase: “Vou perder as eleições porque o povo é ignorante, não sabe votar. Se fosse em Paris, eu ganharia”.
Quando a Polícia Federal apreendeu 400 mil exemplares com essas fake news, Marronzinho teve que prestar contas pelo fato de usar 2 RG’s e 3 CPF’s.
Tradicional político de direita, anticomunista e moralista, Marronzinho também era fervoroso defensor da família, ao ponto de vir novamente a ser preso, dessa vez por não pagar pensão alimentícia.
Marronzinho se defendia heroicamente, acusando a existência de “um complô da grande imprensa contra mim e o partido. Estão tentando me transformar em um monstro, um marginal”.
Por fim, não satisfeito em agredir FHC com insultos e mentiras, Marronzinho o chamou pra porrada.
Lamentavelmente FHC, menino de apartamento criado a leite com pêra e Ovomaltine, correu do pau.
Na trocação, apostaria tranquilamente em Marronzinho. Com seu visceral ódio de classes, bigode e cabelinho de Apolo Creed, ele ia deitar o sociólogo na porrada com sua sequência implacável de pombo-sem asas, e apagar sem dó o Windows de FHC Boca-de-Suvaco.
Criado com vó e mimadinho, FHC, com seus punhos de renda e mocassim italiano, não aguentaria nem 5 minutos de socos internacionais de Apolinho Marron Creed.
Certamente depois da surra, FHC, erudito e poliglota, iria falar francês fofo e assoviado
Ao lembrar dos crimes de lesa-pátria da Privataria Tucana, com FHC “vendendo” a Vale do Rio Doce e 49% da Petrobrás a preço da banana, comprando a reeleição, quebrando 3 vezes o país e endividando o Brasil para impor goela abaixo da população a agenda ultraliberal do FMI, eu era capaz de torcer para Marronzinho tal como torci pro Galo na final da Libertadores.
Marronzinho também era agressivo quanto às suas propostas de governo. “Não sou doutor, mas tenho essa ideia”, dizia ele em seus poucos segundos de horário eleitoral. Dentre suas promessas impraticáveis e malucas, prometia combater a máfia dos vestibulares que enriqueciam os cursinhos preparatórios, transformar o Nordeste num oásis colocando a Petrobrás para furar poços artesanais e limitar a migração.
Prometedor nato, Marronzinho também se comprometeu a acabar de vez com a violência, afirmando que não haveria “um palmo de rua” sem a presença das Forças Armadas. Em sua guerra aos traficantes, estupradores e maconheiros, criaria navios-presídio para prendê-los, tão logo fosse eleito presidente.
Na área econômica, Marronzinho conseguia ser ainda mais perdido que o alucinado Paulo Guedes, famigerado Guru dos Otários e Beato Salu da inflação.
Com a convicção ignorante dos grandes idiotas, Marronzinho afirmou que diminuiria a inflação e a especulação financeira fechando por 6 meses os bancos privados, segundo ele “o maior câncer do Brasil”. Também romperia relações diplomáticas com a Suiça, visando a repatriação dos recursos nacionais depositados naquele país.
Seu slogan de campanha era “pobre vota em pobre, proteste!”, e Marronzinho prometeu transporte público gratuito para todos e a limitação da circulação de veículos nos grandes centros urbanos. Também prometeu carretas com chuveiro e barbearia para dar assistência aos mendigos e transformar em orfanato o Parque do Ibirapuera.
Desincompatibilizado com o mundo político e jornalístico, sem votos suficientes que sustentassem suas ambições políticas e com o registro do seu partido PSP cassado pela justiça eleitoral, Marronzinho recebeu a descarga da história e desceu para o anonimato.
O populista que usava uma tarja em sua boca para denunciar no horário eleitoral gratuito seu suposto silenciamento, com o locutor dizendo ao fundo “Marronzinho vai falar!”, finalmente parou de falar bosta e se calou?
Que nada!
Mais camaleão que David Bowie, Marronzinho, com seus 2 RG’s e 3 CPF’s, agora adotou a alcunha Jamo (acrônimo de José Alcides Marronzinho de Oliveira) Little Brown (marronzinho, em inglês).
Dirigiu um jornal evangélico, de nome Leia o Jornal, em Osasco e, após ouvir o chamado do Senhor, hoje é pastor evangélico em Cabreúva, na Igreja Litle Brown do Reino de Deus.
A vida imita a arte, e tal como Dadinho no filme Cidade de Deus: Marronzinho é o caralho, meu nome agora é Litle Brown!
O homem que disputava votos em busca do poder, hoje disputa fiéis em busca de dinheiro.
Mudou seu nome mas jamais mudaria seus princípios marrons.
Amém, irmãos?
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