Victória Farias

Cruzar a fronteira sempre foi um ato de rebeldia. Tanto a fronteira dos Estados Unidos com o México, como a Ponte da Amizade, entre o Brasil e o Paraguai. As fronteiras, assim como os muros, servem apenas para nos separar daquilo que só pode viver na nossa imaginação: a liberdade. Seja ela qual for, pensada na nação que lhe parecer mais brilhante. Não é o fato de se estar em outro lugar que carrega todo o misticismo da coisa, mais o ato de cruzá-la. Transpassar uma imposição sonhada por pessoas mais importantes que você. Passar por uma linha imaginária desenhada por guerras e sangue que não é seu. É o cruzar que carrega a paixão e a coragem. A culpa e a deportação. E tudo mais.

Ao longo dos anos de existência descobrimos que assim como as nações, somos fronteira. Somos transpassados e deixamos transpassar pessoas que estão só de passagem. Procurando onde fixar terreno, buscando abrigo. Procurando comida ou só o caminho de volta para casa.

Do mesmo jeito que andamos sem rumo, assim são as pessoas que acidentalmente cruzam a nossa linha ao longo da vida. E quando baixamos a guarda e recolhemos nossos exércitos para descobrir o que farão, talvez elas invadam, talvez escolham apenas uma porção de terra para chamar de sua. Outras vezes ficam por um dia ou dois e se recolhem para buscar outras monarquias. Às vezes ficam para sempre, até não existir mais terras para clamar.

A palavra latina para “fronteira” – nosso idioma raiz –, é “fīnis”. Fronteira é onde nós começamos e tudo termina. É onde começam nossos gostos, amores, vivências e onde termina tudo aquilo que não gostamos, evitamos, não enfrentamos. Todos nós somos fronteiriços. Todos nós somos porções de terra, que às vezes se juntam para formar um continente ou, às vezes, nos distanciamos para sermos ilha, esperando atingir alguém. Esperando não ser fim.

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