Dizem que à medida que envelhecemos o tempo costuma passar mais rápido. Devo estar mesmo ficando velha. Tenho me assustado com a velocidade do mundo. A aceleração das relações, dos passos, das emoções, dos pensamentos, das viagens.
O ritmo do instantâneo, do imediato, o bombardeio de informações, as demandas por produtividade, o excesso de tarefas e de trabalho, tudo isso tem colapsado a nossa vivência da experiência como seres humanos e, consequentemente, nossos modos de existir e de sentir.
A promessa da era tecnológica seria de que teríamos mais tempo livre, de ócio e de prazer, já que estaríamos dispensados de realizar uma série de atividades comuns há alguns anos: ficar nas filas dos bancos para pagar contas, ir a um locutório ou orelhão para fazer ou receber esperadas ligações.
Outro dia, tive que ir à minha agência bancária. Era horário comercial, mas ela parecia abandonada. Apenas um funcionário escondido atrás do computador e um segurança na porta que dava as coordenadas e direcionava o fluxo das parcas pessoas que por ali passavam. As pessoas estão desaparecendo dos espaços públicos, pensei. O orelhão na minha rua virou estorvo na estreita calçada, peça sem função, fadada a ir direto para um museu, que desperta a curiosidade de crianças pequenas:
– Mamãe, o que é aquilo?
No entanto, parece ser esse o misterioso paradoxo do nosso tempo presente. Temos recursos na palma da mão. As distâncias se encurtaram. Mas nunca estivemos tão sobrecarregados, atarefados, estressados, alienados de nossa experiência de humanidade. A exigência imperiosa de produtividade e crescimento nos desalojaram da disponibilidade e da abertura para o ritmo próprio da vida. A competição e o individualismo nos alijaram da experiência de percepção e da condição de espontaneidade.
“Citius, altius, fortius”, mais rápido, mais alto, mais forte, é o que nos demandam. Imperativo de onipotência que nos inebria, nos engana. Não há intervalo ou qualquer possibilidade de interrupção no automatismo frenético do trânsito, das telas, das reações. Simplificação das interações: curtir, comentar, consumir. Isso basta? Conhecimentos e relações superficiais. A lógica quantitativa se sobrepõe à qualitativa nas métricas da vida cotidiana.
Aceleraram a vida para quê? Para chegar mais rápido na morte?
Este texto é um convite à reflexão sobre o nosso tempo, ao exercício do avesso, da contramão, do tédio: lentius, profundius e soavius. Mais lento, mais profundo, mais suave, porque é isso que viabiliza a construção de sentido na experiência humana.
Como diz Bondia (2002), tudo que faz impossível a experiência, faz também impossível a existência.
Fontes:
– Bondia, J.L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
– Labbucci, A. Caminhar, uma revolução.
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Bom dia! Que linda reflexão. Lendo este texto fico pensando em como nós estamos permitindo que a nossa preciosa vida seja levada e resumida a isso né? Estamos nos ritmos das máquinas, nos ritmos do consumismo total. Neste mundo do consumo somos vistos apenas como consumidores e nada a mais. Temos que ter tempo para nos, para a gente, para nossos amigos e familiares. Nossos filhos, ah nossos filhos, fico apreensivo só de pensar em como será o mundo para eles daqui a 20 e poucos anos...
Pois é...
Quem viver verá.
E como é complexa essa construção do equilíbrio entre tentar se atualizar, ainda que nas lições do absurdo, e permanecer apegado a valores antigos, sem esquecer da legitimidade de todas as existências. Acho que, com na pandemia, temos um desafio que convoca o coletivo.