Querido Michael,
Você já viu um céu azul? Limpo, sem nuvens e nada atrapalhando o seu vislumbre do espaço? Tão azul que quando você o encara suas pupilas se contraem, sua sobrancelha se abre e sua testa se franze. São poucos os segundos até que o brilho do sol te obrigue a desviar o olhar, mas nesse intervalo de tempo, nesses milésimos em que você consegue ver através da maior e mais poderosa estrela do nosso sistema, você sente. É como uma cosquinha no fundo da alma, um incômodo que não faz mal, e a única coisa que você pensa é: é infinito, e nós estamos presos aqui sozinhos.
Creio que sua resposta a essa pergunta seja sim: afinal, quem, dos seres providos de visão, nunca olhou para cima em um dia claro, buscando enxergar mais do que a linha no horizonte nos permite. Mas se você já viu um céu azul, você conseguiria explicá-lo para mim? Não descrevê-lo, porque eu sei exatamente do que se compõe: azul. Mas você conseguiria, com o seu vocabulário único e suas ideias que se findam explicar um céu azul? Acho que não. Eu não conseguiria.
Se essa pergunta fosse feita para mim, eu com certeza começaria por: uma árvore de folhas verdes contra uma parede azul salpicada de branco. Você já conhece essa paisagem, não de vista, e sim de já ter me ouvido descrevê-la outras vezes. Mas não é uma descrição que você quer, é? É uma explicação, com nuances que nunca podem aparecer se eu te contar exatamente o que eu vejo: um céu azul.
Essas palavras evocarão na sua cabeça todos os céus azuis que você já viu na sua vida, e talvez te explodam sentimentos que só um céu azul pode te despertar, mas isso não ajudará em nada naquilo que eu estou tentando te dizer: te contar sobre o meu céu azul, não sobre o seu. Te fazer sentir o que o céu azul desperta em mim, não em você.
Mas não sairemos disso para lugar nenhum, nunca. Ainda não inventaram uma máquina para transpor um sentimento de uma pessoa para outra. Então, esperemos. Continuarei aqui, contemplando esse céu azul, que para a minha surpresa insistiu em me perseguir durante toda essa semana, diferentemente de como foi no início do mês.
Com amor,
Helena.
Pintura: ‘The Beach at Sainte-Adresse’, 1867 by Claude Monet.
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