Victória Farias
Você acredita em mim? Acredita nas histórias que contei até aqui? O que eu te disse para te convencer? Qual argumento fez você acreditar que eu contei toda a narrativa, do início ao fim, sem adicionar nada das minhas invenções? Não, caro leitor, eu não contei toda a história e a maioria das quais estão escritas aqui só aconteceram no sótão da minha imaginação. Algumas com uma base de realidade, mas outras uma tentativa do meu superego de sobreviver a isso tudo.
Na verdade, nessa última semana tentei me lembrar de uma história surpreendente que eu poderia te contar. Alguma coisa que fizesse você admirar sem ter tempo de relativizar ser real ou não. Mas nada me veio. Nem uma linha, nem um verbete.
Então vamos ao que eu consegui: esse texto é sobre um filme que vi essa semana. Depois que um vírus assola (mais uma vez) a humanidade, as pessoas começam a se esquecer das coisas, de quem são, de quem amam. Uns esquecem de uma vez, outros, aos poucos, e eu não consigo decidir qual é o menos pior. Me esquecer de tudo em um piscar de olhos ou esquecer cada dia um pouquinho de tudo que eu colecionei até aqui?
Esquecer de viver me parece um desígnio um tanto quanto desesperador. Ser outra pessoa dentro da existência, mais difícil ainda. Mas e quando isso acontece com todo mundo, ao mesmo tempo? Quem estará aqui para dizer quem eu costumava ser, se nem eles mesmos se lembram de quem são?
As conclusões que eles chegam no filme são muitas, mas a minha preferida é: esse é o jeito que encontramos para seguir em frente. Se não nos lembrarmos talvez possamos continuar, mas se soubéssemos, se tivéssemos noção do que fizemos, escolheríamos nunca mais sair do lugar. E como pequenos peixinhos, não nos resta outra escolha se não continuarmos a nadar.
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Pintura: René Magritte – Le Thérapeute, 1962