Taís Civitarese
Há algum tempo, tenho observado os modismos linguísticos. Termos que pareciam esquecidos ou que tinham um uso específico entram em voga e se espalham por toda parte. Dentre esses, uma certo ramo me incomoda profundamente. Tudo começou com “diferenciado”.
De 2010 para cá, tudo o que era “bacana”, “luxuoso” ou que tinha um quê a mais, ganhou essa alcunha um tanto quanto pastosa. Em seguida, disseminaram-se os tais “prime” e “premium”. Na mesma linha, para dizer de coisas exclusivas, especialíssimias, selecionadas para pessoas da mais alta estirpe (geralmente, quem tem dinheiro). Poderia parar por aí que já estaria insalubre o suficiente. Porém, piopocaram também as traduções breguíssimas “exclusive” e “privilège” para a poluição vocabular geral.
Leitor, eu não suporto essas palavras.
O texto é para dizer apenas isso.
Que ninguém me diga que algo é “diferenciado” porque, sinceramente, esse eufemismo para a pseudo-superioridade me causa é desgosto. Diga-me que é legal, que é massa. Entenderei perfeitamente.
“Prime” e “premium” são coisas das quais quero passar longe. Para mim, tem um cheiro doentio de querer ser o primeiro em tudo. Geralmente, por razões econômicas. Ou seja, concernem a quem tem mais grana. O mundo já é desigual demais. Nem todos poderemos ser os primeiros ou principais. Vimos na pandemia que “grana” não resolve tudo. Não mesmo.
Portanto, que não me venham oferecer nada “prime”. Dispenso. Por precaução, nem mesmo o prime rib, também conhecido como filé de costela. Afff.
Quanto às demais, precisamos de palavras para unir, não para excluir. Que proliferem expressões mais agregadoras e inclusivas. Nosso tempo pede uma mudança de valores. Os ditames sociais já mudaram e quem não percebeu isso será engolido pelo ostracismo. Está aí um palavra bonita: ostracismo. Lembra-me uma ostra cismada, voltada para dentro. É assim que eu queria ver tais termos. Engolidos por si próprios e arremessados ao fundo do mar.