Taís Civitarese
É impressionante como alguns brasileiros parecem não perceber o país em que vivem. Acham que estão na Suíça ou na Inglaterra, talvez por viajarem o mundo e verem Sephoras e Mc Donald”s instalados tanto aqui quanto lá. Pensam que estão em uma versão mais arborizada dos Estados Unidos ao se fecharem em bolhas bem decoradas e cercadas de segurança armada por todos os lados. Criam seu próprio entorno distópico em que só convivem com gente igualmente privilegiada. E os que destoam nada mais são do que figuras objetificadas pelas funções que exercem. Fico chocada. São pessoas com acesso à “educação” e à “cultura”. Ainda assim, agem com um embotameato aturdente. É assombrosa a postura de parte de nossa “pseudoelite” econômica.
Vamos recapitular. Nosso país é predominantemente pobre. Nosso país é preto. Nosso país tem 7,5% de analfabetos acima de 15 anos e 90 milhões de pessoas sem acesso ao esgoto (IBGE, 2024). A maioria de nossa população passa por dificuldades inúmeras. Insegurança, pouco acesso à saúde, medos, vulnerabilidades de toda sorte. Talvez isso seja de fato um plano estruturado em raízes bastante profundas. No entanto, enquanto ainda estou viva, quando reflito sobre isso, acho extremamente injusto. E isso me incomoda ao ponto de causar certa indignação.
Faz uns vinte anos que trabalho no SUS. Esse sistema dá acesso a realidades brasileiras inimagináveis para quem não as vive. Obviamente não é o único meio para se compreender o país, há muitas outras formas. No entanto, conhecer o Brasil sempre requer algum esforço maior do que apenas supor coisas ou assistir distanciadamente às notícias.
O que aprendi ali me leva a considerar como de um egoísmo estúpido que se use a própria fé para discorrer sobre a vida dos outros. A saúde pública da mulher, sobretudo da mulher preta e pobre, é das coisas mais relegadas ao segundo plano que existem.
Diante da votação do Projeto de Lei 1904/2024, seria bastante humano refletir sobre quem precisa mais estar no foco dele: seria você, com sua medalha de santo, a reafirmar suas crenças, ou seriam as pessoas que mais sofreriam seus impactos? Que mais estão suscetíveis aos efeitos que ele iria trazer (leiam-se: mulheres pretas e pobres)? A mera consideração dessa reflexão já traria muitos ganhos.
Há quem queira fazer do mundo um espaço excludente e eugenista. Um território para poucos. Há quem professe fé e moral em benefício único de seus partidários de ideias. Está na hora de entender que isso não é mais possível. O mundo de hoje é diverso, plural, informado, consciente e vigilante. O pensamento evolui a cada decigrau que aumenta na temperatura da Terra. Minha sugestão a alguns é que usem seu tempo e seu dinheiro para aprender coisas e perfurar suas bolhas. É muito provável que, sem fazê-lo, pereçam sufocados dentro delas.
MARAVILHOSA!!
E ainda temos uma parcela dentro da elite minoritária , que gostaria de ver o SUS privatizando. “”Mulheres pretas e pobres quanto mimimi”” . Mas aqui “”Amigas comprei uma Birkin nova ! Baaafo maravilhosa.
Que texto maravilhoso. Eu penso como você .
Vejo tudo isso quase na minha pele !