Certa vez, estava eu caminhando pela Estrada Real, onde os bandeirantes aventuraram-se em busca de pedras preciosas e diamantes. Andava pelos caminhos de Ouro Preto e Mariana, na terra vermelha dos “pés de pomba”. Na terra da névoa perfumada pelo cheiro de assa-peixe.
A estrada de pedregulho era margeada por casarios coloniais de paredes brancas e janelas azuis, bordeadas de vermelho. De seus porões surgiam sussurros e gemidos, revelando uma história sofrida e de bravuras, assim como de amarras e liberdades. Terra onde sinos dobram com seus hinos clamando por seus fiéis. Cada morador ora na igreja de sua irmandade. Em Ouro Preto, foi uma explosão delas – Do Carmo, São Francisco, Do Rosário, São Benedito. De seus interiores, um esplendor reluzindo a pepita dourada transformada em arte.
Arte barroca de Aleijadinho e Mestre Ataíde.
Chegando ao distrito de São Bartolomeu, havia uma névoa densa. Ao longe, avistei a silhueta de um casarão e, à sua frente, um vulto de uma velha senhora sentada à beira da calçada. Era muito cedo, o sol nem conseguira atravessar a serra. A imagem da senhora capturou meu olhar. Estava envolta em cobertas, mas deixava transparecer seu vestido de renda preta com uma rosa vermelha no peito. Um cachorro caramelo aninhava-se em seu colo. Com as costas curvas e a cabeça voltada para o peito, não conseguia ver seu rosto. Aproximei-me mais e pude ver que brincava com pedras. Desenhava no chão e as alinhava em uma geometria que formava lindas mandalas.
Aproximei-me ainda mais… ela levantou o rosto com toda a expressão que uma vida pode comportar. Olhou bem dentro dos meus olhos e, com uma voz macia, aveludada e resignada, disse-me: “Filha, segue seu caminho em paz e, com as pedras que encontrará nele, construa seus mosaicos diversos e multicoloridos.”
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