Algumas dúvidas sempre nos afligem por gerarem insegurança até quanto ao que representamos ou mesmo ao que somos. Por exemplo, durante o período macabro do nazismo que precedeu à Segunda Grande Guerra, a perseguição aos judeus avaliava que pessoas com parentesco hebraico até terceiro grau deveria ser acossada, como se alguma ascendência gerasse culpa de per si. É desumano e inaceitável hoje em dia, mas já foi legal. Assim como a supressão de direitos aos negros nas américas e também na própria África; os genocídios, chinês, coreano, russo, entre outros, apenas por diferenças étnicas, religiosas ou políticas.
Pelo lado bom, a ascendência europeia, até terceiro grau, gera aos descendentes, em quaisquer estados estrangeiros, o direito à cidadania em alguns países do velho mundo.
Os avós de meu pai, poeta de olhos claros, eram negros, brasileiros pré-abolição. Já os avós de minha bela mãe, eram portugueses, de pele alva, de cabelos claros e lisos. Assim devo me considerar negro ou branco? Minha pele, herdada da mãe, sempre foi muito clara. O fato de usar barba cerrada dava a ideia de que fosse escura. Não importa, na verdade, pois prefiro me considerar apenas humano e, quanto à etnia, brasileiro.
Algumas experiências são difíceis de explicar. Tentamos justificativas criativas, razões imponderáveis ou artifícios para tentar aclarar os motivos de certas coisas ocorrerem, mas sabemos ser, no fundo, pretextos implausíveis. Foi o que aconteceu quando aquela moça bonita, bem mais alta que eu, cabelos pretos cacheados, se interessou por mim. Ela também egressa do interior mineiro, mais ao sul, buscava também o crescimento profissional.
Começamos a namorar e, certo dia, fomos à sua cidade natal onde teria a oportunidade de conhecer seus velhos amigos e alguns parentes remanescentes naquela pacata e boa cidade, com pessoas simples e simpáticas. Características comuns aos mineiros.
Entre os parentes, uma tia que brincava de “cigana”, fazendo previsões e, naturalmente, pedindo uma “lembrancinha” qualquer, de ouro, claro, que “podia ser velho, quebrado; o que valia era a intenção”. Sua arte era tão perfeita que, às vezes, antes dos muitos risos, queríamos dar aquele presente.
Outra tia, de personalidade completamente distinta da anterior, nos recebeu para um café em sua casa. Durante a conversa, com histórias e referências a outros tantos parentes e amigos, percebi uma expressão contínua de comiseração da tal tia. O rosto entristecido e olhar desiludido, com vincos verticais na testa, entre as sobrancelhas que teimavam em se aproximar demonstrando profunda dor, cuja razão ainda desconhecia.
Precisei dar uma saída rápida e, ao voltar, ouvi, por acaso, quando a velha senhora se queixava chorosa à filha que chegara pouco antes de mim:
– Coitada da minha sobrinha: tão bonita, trabalhadeira, moça boa. Foi namorar um “pretinho aleijado”…
Aquela senhora humilde tinha uma expectativa estelar para sua querida sobrinha. Eu estava muito aquém de suas projeções. Mas aproveitei o ensejo do comentário para rir muito e levar “na esportiva” o comentário preconceituoso.
Quando guardamos rancor ou raiva, o sofrimento é nosso e não daquele que o causou.
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Mas e o nAMORo ? não deu certo porque vc é “pretinho e aleijado” ? Ou porque não era um concur$$$$$ado de um Órgão Público ? Enfim, tanto melhor para sua esposa!
kkkkkkkkk
Vou pensar sobre isso.
Boa observação.
Parabéns pelo belo texto
Muito obrigado.
Abraços.
Interessante como o preconceito permeia todas as classes sociais. Triste, mesmo sendo relatado de forma parecer tão despretensiosa.
Muito importante falar sobre, ainda mais nessa leitura tão bem escrita.
Preconceito, amor, decepção, alegrias, tristeza, empatia. Palavras que se contradizem, mas que são vivenciadas a todo momento! Parabéns Mário Sérgio, adoro viajar nos seus contos!!!!
Obrigado.
Acho importante buscar a leveza ao invés do embate.
Até para não se abater. A vida é bem curta.
Abraços.