Sandra Belchiolina
sandrabcastro@gmail.com

Carlos Drummond, poeta itabirano ícone da literatura nacional. Histórias são contadas na sua Itabira e conheci algumas percorrendo os “Caminhos Drummondianos” – Ponto 14 “O casarão”. Casa onde Drummond viveu e onde tudo se inicia. Eis então…

E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?

Esses eram os ecos que escutava após a festa de 15 anos da minha filha. Momento de reflexão de uma mãe que já vê os filhos em busca de seus próprios caminhos. Em muitas outras situações o poema “José” ecoou em mim. E Drummond me interroga e questiona: qual o passo seguinte a ser dado? Para que lado vai? Pois algo já está posto!

Mas quem foi José? José existiu na vida de Drummond, ele mesmo se vê no José?

Carlos tinha um irmão chamado José. Esse enamorado de uma prima a pede em casamento. Alianças no dedo, mas José espanta a noiva – iria colocar barras de ferro na frente de sua futura casa para que ninguém a visse. Apavorada com o ciúmes de José, Lili – a noiva – recuou e desfez o noivado. Nosso poeta transcreve para o papel o desolamento e carência do homem:

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou
o dia não veio…

Com esse real devastador que abateu José, ele busca uma saída, mas para onde? A porta de fuga? O mar? A morte? Minas? Não há nada. E agora?

Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou,
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

E Drummond enxerga uma saída: marcha, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Na genialidade de Drummond, José, seu irmão, se eternizou e tornou-se qualquer um de nós em momentos de frustações e desolamento. Quando uma questão se põe: para onde?

Ps: A história de José pode ser lida em mais detalhes no livro: “Caminhos Drummondianos” dos autores: Dadá Lage Lacerda, Ricardo Shitsuka e Dorlivete Moreira Shitsuka.

Sandra Belchiolina

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