A fronteira entre a saúde e a patologia é sutil. Existe no mundo um sujeito sem patologia alguma? Sem sintoma? Em que ponto deixamos de ser normais e entramos na loucura? O normal é normativo, padronizado? Quando é possível atravessar o desvio?
O mergulho nestas e algumas outras questões existenciais já me trouxe divertimento e contemplação, mas sempre acabo sendo conduzida para o mesmo entendimento: não existe saúde sem doença e a relação entre o normal e o patológico se faz em uma frágil inter relação que tem em seu centro a subjetividade, o sujeito.
Estou trabalhando com um limite de palavras e vou pedir licença para fazer algumas simplificações e, em alguns pontos, ser reducionista, mas dois exemplos sobre a temática marcam a minha trajetória.
Vamos ao primeiro e mais recente: há 3 anos comecei a trabalhar em uma startup e mergulhei em um universo paralelo marcado pela alta velocidade das entregas, excesso de informação e grande carga de responsabilidade. O cenário desencadeou em mim um quadro de ansiedade que me gerou estresse constante e me fez perder noites de sono (fiquei 1 ano inteiro rabugenta sobrevivendo à base de café). O processo foi assíduo e contou com o apoio de pessoas que tornam diariamente a minha vida mais estimada, mas depois de muitas sessões de terapia e doses descomunais de autoconhecimento, hoje a ansiedade está sob controle. Ela me impulsiona a gerar resultados de grande impacto e me tira do estado de passividade, da zona de conforto (ok, ela vive há tanto tempo dentro de mim que posso só ter me acostumado com a sua presença, mas fato é que hoje o meu despertador precisa tocar 3 vezes para me fazer sair da cama).
E o segundo exemplo não poderia ficar de fora desta estreia no jornal: eu colecionei alguns momentos verdadeiramente transformadores em minha ainda breve passagem pela vida, mas nenhum foi tão abrupto e desestabilizante quanto o diagnóstico de uma doença crônica autoimune aos meus 20 anos. A palavra ‘desestabilizante’ não foi empregada ao acaso: eu precisei fragmentar todas as minhas prévias compreensões sobre a existência, as escolhas que havia feito para a minha vida, descobrir que em mim reside uma fé inabalável e ressignificar os meus próximos passos. Desde então, nunca fui tão saudável. Alimentação nutritiva? Check. Academia pelo menos 3 vezes por semana. Terapia em dia…
A ideia inicial para esse texto caminhava para uma outra direção, mas me deixei levar e ela vai ficar para a próxima semana. Por ora, vou finalizar os meus devaneios com uma mensagem breve: você é o protagonista, o sujeito que ocupa (ou deveria ocupar) o centro da sua vida. Quais são os seus sintomas? Em que aspectos eles marcam a sua singularidade e te fortalecem e em quais eles ainda precisam ser percebidos, vistos, acolhidos, cuidados? O que é saúde ou doença para você? Trace as suas fronteiras.
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