Fico assistindo o constante embate entre o que chamam facções políticas, autointituladas de “direita” e de “esquerda”. Ainda ontem, zapeando em frente à TV observei a paródia de pensamento de determinados parlamentares, em busca de público e assistentes. O assunto é requentado, eu sei, mas me desafiou ao comentário.
Na verdade devo ter muito raso o meu raciocínio, pois percebo que as avaliações, opiniões e esparsas sugestões são sempre reativas. Elas não se sustentam em uma base definida. Nascem para o contraponto.
Se determinado grupo pensa de uma maneira o antagônico faz jus ao rótulo, pensando de outra. Pensando? Acho que não. Guerreando apenas.
Assim, perceber a opção sexual de uma pessoa passou a ser assunto de relevância no cenário nacional, quando na verdade é de interesse exclusivo de quem a exerce. À sociedade cabe o respeito e o reconhecimento.
Os políticos, entretanto, sempre atrás de “likes” só fazem extremar. Para eles o que define uma alma feminina ou não é a existência de um útero. Que patético o entendimento. Nosso corpo não direciona nossos pensamentos, é apenas invólucro. É no recônditos de nossa alma que nos fazemos gente.
E gente, como diz o cantor baiano, “é prá brilhar, não pra morrer de fome”. Morrer de fome de afeto, de carinho, de atenção, compreensão e respeito.
Cada um faz o que quer desde que sua liberdade não prejudique efetivamente a de quem quer que seja. Os assombrados de plantão, os “assustados” com o que diverge de si próprio é que se conformem e não tragam essas posturas para o cerne da discussão. Se um estabelecimento tem três opções de banheiro, que assim seja. “Caríssimos” parlamentares, será que não existem questões mais importantes para a nação a merecer estar na ordem do dia?
Da mesma forma a diversidade religiosa. Hoje não existem adeptos ou simpatizantes, mas sim torcidas verdadeiras. Ao invés de buscar refúgio no que efetivamente pregam as escrituras sagradas, seja em que credo for, apressam-se a desferir chutes nos símbolos alheios, como se isso os fizesse mais poderosos.
As divergências sempre acontecerão e é sensacional que assim seja. Somos gente, antes de qualquer coisa e essa coisa é o mais importante.
Sob o ponto de vista sociológico é até compreensível que a ausência de informações, em tempos passados, impulsionasse a existência de preconceitos. Hoje isso é inimaginável.
Olhares, cores, credos, orientação sexual, origem não são crachás delimitadores da busca da felicidade.
O cenário político deveria, essa é a minha conclusão, se preocupar com aquilo que efetivamente impacta a vida das pessoas: melhores condições de vida, acesso à saúde, dignidade, enfim valores, esses sim, verdadeiramente importantes.
A organização de pensamentos análogos em grupos é salutar, resulta em força para a exposição de ideias, mas a verdade é que sempre ressaltam os “pregadores do ódio”, com ofensas, desrespeito, ofendendo os ouvidos alheios.
Melhor seria se ajustassem as diferenças com a profundidade necessária para fazer emergir uma proposta consolidada e, repito, ungida pelos pontos de vista diversos, mas que tenha como propósito algo mais nobre do que a popularidade. Brigar dá ibope e no mundo virtual isso toma proporções astronômicas.
Fico a imaginar Dante Alighieri reescrevendo a “Divina Comédia”, acrescentando ao Inferno, Purgatório e Paraíso, o Mundo Virtual!
Sei que falo mais do mesmo, pois no fundo, qualquer pessoa com o mínimo de dignidade e amor ao próximo difunde tais ideias. Pobres são os caçadores de “likes”, que sequer preocupam com as imagens, seja de si próprios, seja do organismo político em que estão inseridos.
E assim vamos seguindo a vida. O que se deu foi a amplitude da vitrine que expõe a miséria humana, para que outros se deliciem. Verdadeiro “Big brother” social.
O mundo virtual trouxe consigo este ingrediente pérfido: o de julgar, a todo tempo e despido de qualquer conhecimento, a conduta alheia.
Mas um dia isso mudará, afinal a história nos mostra que nada é eterno.
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