Outro dia fui ao salão de beleza e pedi para o cabeleireiro mais laquê. Ele gargalhou alto e me aconselhou:
– Meu bem, não fala mais isso não. Todos vão saber a sua idade.
Ri junto, de constrangimento pelo jeito espontâneo e espalhafatoso como ele me corrigiu. Acabei descobrindo que o nome moderno para laquê é hairspray e que cabeleireiro agora é hairstylist.
Saí de lá lembrando que recentemente comentei que iria viajar de keds. Meu amigo que ouviu aquela declaração teve uma reação semelhante:
– Ninguém fala mais isso, Dani. É antigo.
Procurei um sinônimo rapidamente:
– Tá bom, então eu vou de tênis.
Ri internamente. Consegui colocar um visual mais arrojado, sem precisar trocar de calçado.
Desde então, venho tentando me atualizar com as tendências globalizadas da nossa tão complexa língua portuguesa e evitar falar palavras obsoletas para não passar mais vexame.
Mas, a verdade, é que as antigas saem sem que eu perceba. Quando me dou conta, elas já foram.
Sempre lembro da casa dos meus avós. Passávamos a tarde no alpendre assistindo ao movimento da rua. De vez em quando, meu avô fazia tocar a sua radiola com um dos seus discos de vinil, os modernos LPs, de sua extensa coleção do Julio Iglesias ou do Elvis Presley.
Minha avó suspirava diante da Telefunken dizendo que Tarcísio Meira era um “pão”. Alguns anos mais tarde, na época da filmadora e do video cassete, gostávamos de assistir às nossas filmagens em videoteipe.
Hoje os alpendres viraram varandas. As radiolas viraram “retrô”. Os vinis viraram CDs que viraram mp3 que viraram playlists e podcasts e parei de acompanhar.
Depois, moço bonito virou “broto”, que virou “gato”, que virou“sapão”. O antigo flerte ou paquera virou “chaveco” e agora é “crush”.
Ninguém mais arrasa, agora a gente “lacra”. Passar a perna ou enganar alguém é “trollar”. Pelado é “nude”. Uma grande amiga virou “BFF”.
A televisão que estraga está “bugada”. Dar uma de cupido é “shippar”. Estar confuso ou distraído já foi “viajar na maionese” e hoje é “estar na disney”. Fui comprar uma agenda 2020 e saí de lá com um “planner”.
Então, para não correr o risco de ser “cafona” nem “pagar mico” prefiro ser uma old fashioned.
(Texto original da autora publicado no blog Mirante, em 12/02/2020).
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Sapão ??? Eu ainda não cheguei ao sapão, nem sabia disso. Deve ser porque beijado, vira príncipe. Eu hoje elogiei alguém no face dizendo que ele parecia um galã! Adorei o texto. Fazia anos que eu não seguia blog mas esse eu fiquei fã !
Vc não tem nada de old. Só tem de fashion! Bjos.