Escrevi há duas semanas sobre os impactos do uso das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) nos processos de subjetivação contemporâneos e fiquei a refletir, num exercício de futurologia, como será o nosso mundo humano e tecnológico no futuro.
Já falei aqui sobre o tecnoestresse e a dependência tecnológica, que é um quadro que evidencia os efeitos negativos do uso das tecnologias para a saúde mental das pessoas. Isso foi em 2018, cheguei até a dar entrevista sobre o assunto. Mas hoje percebo que a pandemia agravou muito o cenário de dependência tecnológica pela necessidade de ampliação do trabalho remoto como medida de contenção à COVID-19.
Hoje estamos todos inegavelmente dependentes da tecnologia. Fomos todos capturados pela lógica dos algoritmos, como foi representado no documentário “O dilema das redes”.
A imposição da necessidade de se estar online o tempo todo, a instauração de uma cultura do imediatismo e da urgência, em que não há tempo para pausas e processamentos, o excesso de interações, o incessante fluxo de informações, o sedentarismo, tem gerado quadros de cansaço e fadiga crônicos, não sendo incomuns a sensação de dissociação subjetiva e de dificuldade de reconhecimento da própria vida devido a falta de estabelecimento de limites mais delimitados entre o homem e máquina, seja ela smartphone, computador ou qualquer dispositivo conectado à rede.
Os sintomas estão por todo lado: inquietação física e mental quando se precisa se afastar do celular, sensação permanente de perda frente às timelines infinitas, o medo de se estar “de fora” ou o vulgo “FOMO” – termo em inglês para “fear of missing out”, sensação de “desorganização”, pois nada tem hora e as coisas estão fora do lugar e do contexto.
Muitas vezes nem dá tempo do celular recarregar completamente a bateria antes de se iniciar uma nova tarefa, conversa ou interação. Comigo já aconteceu a estranha bizarrice que é conversar com o áudio de whatsapp, o que me renderia um certeiro diagnóstico de iminente loucura por falar sozinha. Mas, por enquanto, me proporcionou boas risadas.
Até a relação com o tédio está diferente. Minha filha usa essa palavra com frequência. “Estou com tédio, mamãe”. Essa frase vem sempre quando ela está desconectada, sinto que o corpo dela sente a necessidade de estar sempre mexendo com algo nas mãos e seu cérebro, acostumado ao ritmo frenético do mundo online, demanda estímulos infinitos.
Enquanto não sabemos como será o regime híbrido, no mundo do trabalho e fora dele, eu continuo defendendo o tédio, o ócio, as pausas, o offline. O uso ativo das redes também é uma recomendação importante ao invés do uso passivo, que abrange a pura e irrestrita absorção de conteúdos. Para onde está focada a sua atenção?
Pela saúde mental, tenho indicado e praticado a vida com textura e com cheiro, privilegiando experiências que contemplem os cinco sentidos de forma integrada com o movimento. O tato para além das inóspitas telas.
Tenho recomendado o viver ao invés de postar, a diminuição da expectativa em relação ao “extraordinário” que é exibido na internet. A felicidade é pequena.
Em tempo: este post é o número 800 deste blog do qual tenho a honra de fazer parte e contribuir com o meu olhar para o mundo.
(texto original postado em agosto de 2021)
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