Capítulo 6
Isac despertou com a luz fria e forte da enfermaria tentando achar caminho entre suas pálpebras fechadas. Não sabia como tinha chegado ali e, pior ainda, não sabia se tinha conseguido terminar o seu discurso sobre a necessidade de continuar explorando o universo. Tinha feito dessa necessidade sua luta particular, batalhava sozinho e estava perdendo. Quando criança, viu seus pais pararem de olhar para o céu sem entender o porquê. Ali estava tudo. Planetas de gás, de gelo, de areia. De todas as cores e tamanhos, com e sem anéis, grandes e pequenos. Além das estrelas, guardiãs da galáxia, e os meteoros. Sempre que os trabalhos da faculdade permitiam, Isac ia até o campo aberto perto do posto de coleta 2 para tentar ver algum meteoro.
Ninguém sabia porque, mas era lá que as pessoas se reuniam para essa ocasião e sempre saiam de lá desapontadas. Não havia meteoros, pelo menos não mais. Ouvia histórias sobre chuvas de meteoros e estrelas cadentes que eram vistas desenhando o céu noturno. Mas isso que eram, apenas história. Contadas por idosos perdidos nas próprias memórias. Provavelmente a chuva de meteoros nada mais era do que imaginação, e as estrelas cadentes desejos nunca realizados. Mas ele gostava de ouvir. Sentia-se completo, todo. Sentia seus olhos olhando para as estrelas caindo, as luzes brilhando.
Embora não fosse nenhum orgulho para os pais, decidiu cursar astronomia. Não era um curso muito procurado porque ninguém mais acreditava que aquilo acima da suas cabeças era o céu, mas ainda existia para pessoas como ele, os sonhadores. Na noite passada, e o motivo de ter acordado na enfermaria nesse momento, tinha bebido um pouco demais, envolvido em uma discussão sobre a possibilidade de encontrar água na Lua. Na Lua! Água, fonte de vida, na Lua! O entusiasmo das possibilidades tomou conta dele. Seria possível? Claro que sim! Era tudo o que ele acreditava. Sobre a vida em outros lugares, em todos os lugares. A Lua, a linda e grande Lua, era só um deles. Isac sentia, embora não podia dizer propriamente que soubesse, que os estudiosos antes dele estavam procurando longe demais e no lugar errado. Ele sabia que a vida estava mais próxima do que se podia imaginar, esperando, pedindo, transbordando. Não seria achada com gritos de desespero. Era preciso calma, entendimento, humanidade. Isac, que não tinha nada além disso tudo, resolveu que iria aonde fosse, do primeiro ao último planeta, encontrar o que ele estava procurando. Ou, melhor ainda, para achar vida ele iria até a Lua!
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“Só” é um conto de 10 capítulos, que serão publicados individualmente semanalmente.
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